Sem medo de ir e vir

Por Vitor, no blog No Táxi Com Travis Bickle – 20/10/2013
Elena Costa era uma jovem e talentosa atriz, integrante durante certo tempo de grupos de teatro e peças elogiadas no Brasil, que resolveu tentar a sorte nos Estados Unidos no fim da década de 80. Aguardou ser aceita na Columbia University, e enquanto isso fez muitos cursos que a ajudassem a crescer como intérprete e artista, como castanhola e canto, por exemplo. Frustrada pelas poucas chances recebidas retorna para casa, para o conforto dos braços de sua mãe e o sorriso de sua irmã 13 anos mais jovem. Quando retorna a Nova York, Elena é acompanhada pelas duas.

A diretora estreante Petra Costa é a caçula. Ela é a narradora, a voz que conecta as imagens de arquivo e remonta uma tragédia que, ao longo de mais de vinte anos, doeu, sangrou, virou lembrança, depois água, mas não escorreu pelo ralo. Petra retornou à América para construir ELENA, um documentário extremamente tocante sobre o poder que as memórias têm de remontarem a realidade.

Durante todo o longa, durante a exibição de imagens da infância das irmãs ou das andanças de Petra por Nova York, a diretora fala com Elena, como em uma carta. “Minha prima me disse que se eu quisesse, eu poderia falar com você. Que você estaria invisível, mas que me escutaria.”, ela diz em certo momento. Petra narra a vida de sua irmã para a própria Elena, como se ela estivesse do lado de cá da tela, entrecortando tudo com imagens nas quais estuda suas lembranças ao lado da mãe, e seus olhos distantes são de destruir o coração de qualquer um.

ELENA é um filme muito pessoal. Alguns podem reclamar da exposição, podem falar que Petra Costa transformou a tragédia de sua família em espetáculo, em mercado, mas eu não penso assim. A dor não é espetáculo aqui, não parece ser essa a intenção da cineasta que, com sinceridade, exorciza seus demônios através da narrativa e do som de sua voz doce e baixa, e apresenta sua linda irmã, uma personagem trágica, mas fascinante, para o mundo.

A diretora não tem medo de ir e vir no tempo. Não constrói sua narrativa através de uma ordem cronológica, mas de fades que ilustram as elipses e viagens, em pensamentos e lembranças que se seguem enquanto Petra tenta dimensionar a dor da tragédia e o amor pela irmã.

Ao terminarmos de assistir a esse mosaico emocionante de imagens e vozes, ao som da bela e adequada “Dedicated to the One I Love”, podemos dizer que ela conseguiu, dando à luz, assim, a um dos mais belos e dolorosos (e doloridos) filmes a estrearem por aqui em 2013.

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