É sem dúvida um filme melancólico, mas completamente libertador.
por Cláudia Collucci, Folha de São Paulo
Ao entrar na garagem, estranhei um carro da Polícia Técnica estacionado em frente ao prédio. Perguntei ao zelador o que havia acontecido e a resposta foi evasiva: “foi um acidente, dona Cláudia”. Não satisfeita, quis saber mais.
Meio constrangido, ele contou que moça do décimo andar tinha se jogado do apartamento durante a madrugada. Ninguém percebeu até que um morador abriu a janela pela manhã e viu um corpo estendido sobre a laje do salão de festas.
A mulher tinha 42 anos, problemas com álcool e diagnóstico de depressão crônica. Morava com o pai idoso e já havia tentado outras duas vezes o suicídio.
Bate uma mistura de tristeza e impotência quando alguém que mora seis andares abaixo do seu apartamento não vê mais razão na vida e decide acabar com ela. Nesses momentos, também fica claro o desconforto que muitas pessoas sentem em falar sobre o tema. Vi isso estampado no rosto do zelador.
Por que falar sobre isso agora? Porque falar é o primeiro passo para a prevenção. No Brasil, o suicídio é considerado um problema de saúde pública. Ao menos 25 pessoas se matam diariamente e, segundo pesquisa da Unicamp, 17% dos brasileiros pensaram seriamente em tirar a própria vida pelo menos uma vez.
E o que poucos sabem: mais de 90% dos casos de suicídio podem ser evitados. A Associação Internacional de Prevenção do Suicídio definiu o tema “Preconceito: uma barreira à prevenção do suicídio”, como a bandeira deste ano a ser levantada no dia 10 de setembro, Dia Internacional de Prevenção do Suicídio.
Também como parte dessa estratégia, o CVV (Centro de Valorização da Vida) criou o movimento “Isso me faz seguir em frente”, que busca estimular as pessoas a refletirem sobre suas emoções e motivações para a vida.
Originalmente on-line, o movimento tem como base a fanpage no Facebook, na qual os internautas compartilham as suas motivações para seguirem em frente, que podem ser pessoas, causas, sensações ou hábitos.
Pode-se simplesmente escrever na linha do tempo ou baixar uma das placas produzidas para o movimento –disponíveis no álbum da própria página–, escrever sua motivação, tirar uma foto e enviar como mensagem na fanpage. A equipe que administra a página publica a foto na sequência.
A intenção é estimular as pessoas a buscar o equilíbrio e encontrar alternativas para as mais diversas situações da vida. E abrir um canal para se falar abertamente sobre o assunto, colocar-se à disposição de quem busca ajuda e, quando for o caso, entender que é possível pedir socorro e mudar o rumo de sua vida.
“Nem sempre conseguimos identificar facilmente o que nos motiva ou nossos objetivos de vida, pois não temos o costume de realizar essa autoavaliação. Todos nós temos bons motivos para viver, o que ocorre é que, eventualmente, temos dificuldade em fazer essa identificação”, diz um voluntário do CVV.