Tragédia tira Coutinho de cena
6 de fevereiro de 2014

 

O cineasta paulista Eduardo Coutinho, um dos maiores documentaristas do Brasil, foi assassinado no domingo, 2 de fevereiro, em seu apartamento no Rio de Janeiro. Coutinho tinha 80 anos e fez sucesso no cinema com filmes como “Cabra Marcado para Morrer” (1984), “Edifício Master” (2002) e “Jogo de Cena” (2007). Em 2007, ele recebeu no Festival de Gramado o Kikito de Cristal pelo conjunto de sua obra. Em junho de 2013, foi convidado a integrar a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, entidade responsável pela premiação do Oscar.

A importância de Eduardo Coutinho para o documentário brasileiro é enorme. Em um artigo publicado no Diário Catarinense no dia 8 de fevereiro, o cineasta gaúcho Carlos Gerbase fala sobre o seu legado. Para Gerbase, a obra de Coutinho tem um olhar que não tenta ser redutor” e a habilidade de fazer seus personagens “vencerem seus medos e abrirem o coração, explicitando seus sentimentos mais íntimos, numa cumplicidade que vai nascendo aos poucos(…)”.

No site de ELENA há várias referências à obra de Coutinho na fortuna crítica e nos textos sobre debates que sucederam a exibição do filme. Destacamos abaixo dois deles:

João Moreira Salles, em debate no Itaú Cultural, traça um paralelo entre Cabra Marcado para Morrer e ELENA:

“Salles ainda destacou outro aspecto importante sobre o filme. Para o diretor, Elena só poderia ser feito por Petra. “É intransferível, ninguém mais poderia fazê-lo. E isso tem uma força extraordinária”, diz o diretor, citando Cabra Marcado para Morrer (1984), de Eduardo Coutinho, como outro exemplo de filme “intransferível”.  Nele, assim como em Elena, há uma narrativa em primeira pessoa e a presença do documentarista em cena.”

Helio Nascimento, no texto “A irmã”, publicado no Jornal do Comércio de Porto Alegre fala sobre o cinema de Coutinho e a estreia de ELENA:

“O (cinema) de Coutinho reúne e involuntariamente propõe várias histórias à espera de um roteiro. Nesses (…) filmes está concentrada a ideia principal: cinema é, antes de tudo, personagens, seres humanos focalizados por uma câmera. Qualquer pesquisa formal, qualquer proposta inovadora, qualquer descoberta, tudo perde valor quando se afasta do humano e abandona o personagem.”

Por isso, mais que do lamentar a tragédia da morte de Coutinho, é preciso reconhecer e festejar seu legado e ensinamentos. Eles estão presentes em obras de cineastas como João Moreira Salles, Walter Salles, Walter Carvalho, João Jardim, Petra Costa, entres outros, que, assim como Coutinho, valorizam o ser humano e as tramas sociais que o cercam.



<<< voltar para Notícias