Seu passo é como uma melodia suave… uma valsa sutil que embala o breve giro com que meus braços dão no ar, abraçando qualquer coisa que eu não sei… apenas sinto essa brisa que me engole e ao mesmo tempo me invade. Me sinto tomado por esta atmosfera que é como o tocar de um piano. Só quero dançar essa noite, tocado pelas mãos de algum anjo que vem a pousar na minha cabeceira como faz todas as manhãs.

Me beija e canta, leve, breve, suave…um canto de ave. Enquanto isso, só por esta noite, me permito dançar. Já não me embalo conforme a melodia, mas sim, conforme a vida. Estou conformado com isso. Me sinto nessa atmosfera plena, ritmada em que tudo dá e é só isso. O que vem então, depois desse sonho? O que vem depois dessa vida? Seria mais plausível se estivéssemos todos nós, acometidos a viver a mesma realidade a que a vida nos impõe ou que, até mesmo, cada dor, cada cicatriz que em minha alma se tatuou nos despisse por completo deste sonho. Já não consigo desafazer-me deste nó que a vida fez em mim. Só sei o que quero ser e até onde meus pés me possibilitam ir. Estou vivo além desta realidade que a vida me proporciona, mas eu quero é voar. Pois a mim, não me importa se eu não conseguir chegar a onde meus pés suportam em pisar. Quero então, que meus braços tenham a força para nadar contra toda e qualquer correnteza desse rio, e não importa o que custar, eu sei, e eu quero chegar lá. Do outro lado, existe uma margem lamacenta.

Não importa se para chegar ao castelo, primeiramente é preciso nadar pelo fosso. Eu quero é brilhar como faz a lua lá em cima. Ela é minha inspiração. Ela é o absoluto som que navega mares em silêncio como uma voz, surrando dentro de minha alma, o quanto eu ainda devo navegar. Uma vez, ainda me lembro ao ouvir o som da sua voz. Uma professora de português me disse que “navegar é preciso” e que “viver não é preciso”. E eu descobri isso quando nos vimos pela ultima vez, enquanto há procurava entre tantos rostos na imensidão daquela igreja. Lá estava ela, de cabeça erguida, firme e forte. Era a missa de um ano de falecimento de seu marido, e a minha formatura do 3 grau. Ela me sorriu, tomando-me por entre os ombros em meio a tantos olhares que se debruçaram sobre nós. Ela sorriu e me disse para que eu tomasse como lição e mais do que isso, uma inspiração que eu levaria dali em diante para toda a minha vida. “Seja muito Feliz.”

E isso, hoje, a mim, me basta. Ela foi e sempre será uma das minhas inspirações. Ela me fortalece. E a cada passo com que dou, acompanhando a lua que brilha lá em cima, mesmo sozinha, ela me toma pelas mãos e me guia. Iluminando cada passo nessa jornada. Embora sozinha, ela traduz a sua melodia no som daquela voz inspiradora que soa em meus ouvidos como uma oração, quem sabe, uma prece. A mais bonita de todas que eu já tenha escutado. “Seja muito Feliz.”

Talvez, ela tenha compreendido o significado desse meu olhar. Que hoje, eu vejo travestir-se com o mesmo brilho enigmático do luar. Eu quero dançar ao som da sua voz. Eu quero caminhar em sua melodia. Não quero ter sempre que me despedir ao embalo de cada melodia. Sem lágrimas nos olhos, eu me permito navegar. Eu me permito caminhar ao passo do rastro desse luar que mesmo lá de cima, me ilumina. Essa é a minha meditação de todos os dias. De todas as noites. E danço…apenas danço no embalo do seu navegar por entre as nuvens de algodão onde os anjos pulam daqui pra lá. E só. A minha, agora, me suporta o sonho de Viver e Navegar…

Elena se dança, leve, breve, suave… Um canto de ave.

(do longa-metragem ELENA de Petra Costa)

OBS: Ainda não pude ver o longa. Embora, esteja doido para assistir. Escrevi aqui de acordo com fatos de minha vida, embalado pela melodia suave deste. Estou tocado e movido pela delicadeza com que Petra consegue tocar fundo, seja com imagem, história ou a melodia que nos embala sob a mesma luz do seu luar, neste girar.

FICA A DICA PRA QUEM PUDER ASSISTIR.

COM AMOR E CARINHO, RSROLIM.

BEIJOS E UPAS, RSROLIM.

OM NAMAH SHIVAYA