Conversa no Itaú Cultural São Paulo
25 de maio de 2013

“Elena mostra que você não muda o mundo, mas que você pode se mudar”, diz João Salles

Na última terça-feira, 21, o cineasta João Moreira Salles, a diretora Petra Costa e a produtora Daniela Capelato se encontraram em São Paulo para um bate-papo sobre o filme Elena. A conversa aconteceu no Itaú Cultural após a exibição do filme para uma plateia lotada.

A mediadora do encontro, Daniela Capelato abriu a conversa chamando a atenção para o processo de criação dramática de Elena. Segundo ela, o ponto inicial do filme são três mulheres (Elena, Petra e Li An) que queriam ser atriz. Partindo disso, a diretora Petra Costa criou uma narrativa que traz a dubiedade das personagens, mostrada, por exemplo, na cena em que um sonho de Petra se confunde com a história de Elena, sua irmã. Junta-se a isso, o fato de Petra ser, ao mesmo tempo, narradora e personagem da história.

Para o diretor João Salles, os melhores documentários lançados nos últimos anos são justamente aqueles que falam de experiências pessoais. Segundo ele, esse movimento vem acontecendo há cerca de quinze anos e muda o antigo pensamento de que um documentário tenha que ser, obrigatoriamente, uma ferramenta para mudar o mundo.  “Esse diretores não rejeitam o afeto que está por perto. São filmes pessoais que humanizam o cinema”, disse Salles.  “Elena mostra que você não muda o mundo, mas que você pode se mudar”, complementou o diretor.

Salles ainda destacou outro aspecto importante sobre o filme. Para o diretor, Elena só poderia ser feito por Petra. “É intransferível, ninguém mais poderia fazê-lo. E isso tem uma força extraordinária”, diz o diretor, citando Cabra Marcado para Morrer (1984), de Eduardo Coutinho, como outro exemplo de filme “intransferível”.  Nele, assim como em Elena, há uma narrativa em primeira pessoa e a presença do documentarista em cena.

A diretora Petra Costa atribuiu à antropologia, ciência na qual é formada, a “fissura” do autor em se colocar na discussão. “Entrei para a antropologia com a vontade de mudar o mundo. Eu terminava meus trabalhos sempre com algum manifesto”, disse.

Petra também respondeu a questões levantadas pelo público presente no encontro, principalmente sobre a linguagem escolhida e a montagem do filme. Petra disse que, para ela, a imagem síntese de Elena é a de mulheres – muitas – na água. Algo como diversas Ofélias, personagem da obra Hamlet, de William Shakespeare.  “Quando encontrei os diários de Elena, com 16, 17 anos, eu senti que não era um drama de Elena, não era um drama só meu, era o drama de muitas jovens mulheres que não conseguiam lidar com as próprias emoções e se afogavam”, disse.

A diretora também revelou que, antes de lançar Elena, mandou uma cópia do filme para João Salles – sem conhecê-lo pessoalmente – para que ele assistisse. A resposta veio em um generoso e-mail. Essas e outras interessantes reflexões sobre o filme você assiste abaixo, no vídeo que traz a íntegra do debate.

 



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