VAMOS FALAR SOBRE SUICÍDIO? E PREVENÇÃO DO SUICÍDIO EM JOVENS
2 de agosto de 2013

O filme ELENA se propõe, desde sua concepção, a colocar o assunto do suicídio em pauta. O vídeo acima, composto por trecho do filme ELENA e de alguns debates realizados a partir dele, serve de instrumento para uma conversa sobre o tema.

O primeiro depoimento do vídeo é de Tanya, uma jovem que tentou o suicídio ainda adolescente. Em seguida, Carlos Estellita-Lins, pesquisador da Fiocruz, traz o primeiro ponto de discussão: o pensamento sobre suicídio é comum.

Segundo estudo realizado pela Unicamp, 17% dos brasileiros, em algum momento, pensaram seriamente em dar um fim à própria vida e, desses, 4,8% chegaram a elaborar um plano para isso. Pensar em suicídio faz parte da natureza humana. Estas são algumas das informações apresentadas pelo folheto Falando Abertamente Sobre Suicídio do Centro de Valorização à Vida.

No entanto, pensar em suicídio é comum até determinado ponto, nos alerta Carlos Estellita-Lins. Por isso, falar abertamente sobre o assunto, saber as principais causas e as formas de ajudar, pode ser o primeiro passo para reduzir as taxas de suicídio no Brasil.

Algumas obras foram produzidas no Brasil com a intenção de colocar o suicídio em pauta. Além de ELENA, citamos um documentário realizado pelo Grupo de Pesquisa de Prevenção de Suicídio da Fiocruz e o livro Trocando seis por meia dúzia, organizado por Carlos Estellita-Lins, que trata do atendimento aos pacientes em risco de suicídio nas emergências dos hospitais no Rio de Janeiro.

No documentário realizado pela Fiocruz, a entrevistadora explicita o tabu em torno do suicídio conversando com pessoas na rua sobre o tema e Neury Botega, professor de medicina da Unicamp, revela que até pouco tempo atrás não se falava em suicídio no Brasil. O problema era negligenciado pois o país possui um coeficiente médio de suicídio relativamente baixo, no entanto, esse índice esconde os altos coeficientes de suicídio em certas cidades e entre alguns grupos populacionais como no interior do Rio Grande do Sul e na população indígena do Centro-Oeste e do Norte do país.

Na maioria das vezes, é possível evitar que os pensamentos suicidas se tornem realidade. No vídeo ao acima, podemos ver o trecho do filme em que mãe e irmã percebem a depressão de Elena. Em seguida, no depoimento de Tanya, sobrevivente de tentativa de suicídio, podemos entender sua sensação de isolamento em uma sociedade que evita falar sobre o tema.

No mesmo documentário realizado pela Fiocruz, José Belinário Filho, psiquiatra em infância e adolescência, nos alerta que na idade pré escolar ou escolar houve um aumento impressionante no número de suicídios se compararmos com o século passado. Ainda segundo ele, nessa fase da vida o problema não é ter o pensamento suicida, o problema é não ter com quem falar sobre ele.

Sabendo disso, é preciso refletir sobre a necessidade de diminuir o tabu sobre o tema, sensibilizar escolas e locais que trabalhem com jovens para identificar, avaliar, acolher e encaminhar jovens com comportamento suicida ou que já tenham tentativas prévias. No entanto, como se aproximar e oferecer ajuda à pessoa que está numa crise suicida? O Manual para professores e educadores de Prevenção ao Suicídio produzido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) contribui na identificação de estudantes em conflito e com possível risco de suicídio, e orienta sobre como abordá-los.

No vídeo acima, Ivana Bentes, pesquisadora em Comunicação da UFRJ, nos lembra que a mídia também evita falar sobre o assunto. Para apoiar profissionais de imprensa, existem dois documentos: a cartilha para profissionais da imprensa elaborada pela Associação Brasileira de Psiquiatria, Comportamento Suicida: conhecer para prevenir, e o Manual de Prevenção ao Suicídio para profissionais da mídia elaborado pela Organização Mundial de Saúde.

No vídeo, Carlos Estellita-Lins nos lembra que a abordagem equivocada da mídia pode inclusive influenciar o suicídio. Essa percepção de que a imprensa pode influenciar o suicídio existe desde 1774, quando Goethe veio a público se defender após alguns jovens cometerem suicídio em situações similares ao livro Os sofrimentos do jovem Werther. Este fenômeno originou o termo “Efeito Werther”, usado na literatura médica para designar a imitação de suicídios.

Sendo assim, o suicídio de alguém famoso e importante para os jovens é motivo para uma conversa nas escolas. O também chamado “suicídio por contágio” pode envolver não só crianças e adolescentes que conhecem uns aos outros, mas jovens que estão longe da vítima de suicídio ou nunca o conheceram.

Por fim, Petra Costa, diretora do ELENA, em referência às manifestações que ocorreram em todo o Brasil em junho de 2013, aponta a necessidade de políticas públicas sobre o tema. Em final de 2005, o Ministério da Saúde montou um grupo de trabalho com a finalidade de elaborar um Plano Nacional de Prevenção do Suicídio, com representantes do governo, de entidades da sociedade civil e das universidades. Em 2006 foi publicada uma portaria com as diretrizes. No entanto, ainda são muitas as carências no que se refere a uma estratégia nacional de prevenção.

No mesmo documentário realizado pela Fiocruz, Neury Botega fala sobre formas algumas formas de evitar o suicídio, segundo ele, em houve bons resultados em experiências de campanhas de tratamento e prevenção, na restrição de armas letais (inclusive campanhas de desarmamento), na restrição de acesso às linhas de trens de metrô, na regulamentação de embalagens de medicamentos, na mudanças da arquitetura de edifícios, e ainda em ações de sensibilização de agentes de saúde, especialmente nos CAPS (sobre esse assunto, veja em mais no eixo de discussão Promoção de saúde mental).

Acesse também:

Promoção de saúde mental

Para aqueles que ficaram: apoio aos sobreviventes

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