A vida não é um filme
14 de maio de 2013

 Glenda Rodrigues – 14 de maio de 2013

Elena, esse é meu nome. Nunca procurei saber o significado ou até mesmo o que ele significa para os meus  pais.

Eu tenho um corpo fino, olhos estranhamente desenhados e os dedos dos pés feios.

Meu ossos doem com uma frequência inacreditável. Eu não enxergo de longe, vocês não sabem como é difícil pegar um ônibus. Primeiro ele vem, depois eu aperto os meus olhos com toda força, então enxergo, mas como de costume nunca é o meu ônibus.

Eu sou um tanto solitária, apesar de muitos amigos. E quanto mais eu envelheço, mais eu percebo que eles estão indo, mesmo não querendo.

Há quem diga que eu cheguei ao fundo do poço mesmo tão jovem, eu digo que não. Se vocês estivessem aqui perceberiam.

Eu tenho um gato e uma cadela, seus nomes são Napoleão e Mia. Eu moro em um apartamento, tenho um fogão bonito – e nem preciso de um livro de receitas para cozinhar – Eu escrevo, duas vezes por semana dou aula de italiano, e frequentemente viajo sozinha sem rumo. Danço nua pela casa sem perigo de ser vista. Tenho um cara – eu não gosto do nome namorado, soa estranho quando falo – Ele costuma vir sempre aqui, tomamos umas doses de tequila, transamos, lemos livros, dormimos de meia, ele me faz carinho. Só não digo que somos mais íntimos porque nunca viajamos juntos, ele diversas vezes se auto convidou mas eu sempre dou um jeito e acabo indo sozinha. Não que eu não o ame, mas eu mereço a minha companhia as vezes.

Eu tento rir o máximo que eu posso, principalmente do passado, ele não é tão doce como nos dias de hoje, porém não posso dizer que ele foi tão ruim.

Eu me encanto facilmente, principalmente quando vejo uma rosa em um jardim qualquer, ela representa toda uma história que precisa ser contada algum dia.

Ainda não tive filhos, me acho um tanto nova pra isso, meu passaporte ainda nem está completamente preenchido, mas daqui à alguns anos, em um futuro não tão distante, provavelmente eu estarei apreciando os belos olhos de um bebezinho sem maldade ou alguma perspectiva.

Me lembro perfeitamente do dia em que entrei em meu apartamento, a menina sem perspectiva tinha conseguido sair de casa. Eu simplesmente passei o dia dançando sozinha nesse lugar vazio e cheio de caixas que deveriam ser esvaziadas.

Lembro de quando eu era pequena, achei uma caixinha de fósforo no chão da cozinha e corri direto para o meu quarto transformando aquela caixa em uma casinha de boneca, Adorava aquele mundo, meu mundo.

Meu nome é Elena, eu tenho uma vida, um mundo, perspectivas, eu não estou só, eu sou feliz e isso não é um filme.

A blogueira Glenda Rodrigues escreveu o texto acima após assistir ao filme e publicou originalmente o texto em seu blog



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