O filme da filha que entra na China

Fernanda Ramone, organizadora do Doc Brazil Festival – 25 de julho de 2015

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Ao final da busca, ao final do filme sons de sino.
Água e ar, a vida a pulsar.
O movimento no lago
vestido molhado
escama de peixe a nadar.
Cor carmim.
Encontro das águas
encontro das almas
dualidade a instaurar, o oriente sem fim.
Sem fim nem começo,
no escuro do avesso
no claro do par.
Os cinco elementos
o universo a guiar
paisagem bucólica
tradição milenar.
O filme da filha que entra na China
e a China a mostrar
à filha e à mãe o muito que há.

Assisti ao filme em São Paulo, em tempos de jornadas de 2013, de preparação para a edição especial do festival que organizo na China (DocBrazil Festival), país que foi meu lar durante nove anos. Em setembro do mesmo ano, em Beijing me apresentaram para a Li An, nesta ocasião cheguei a comentar sobre a poesia da cena final do filme, que para mim traz referências muito fortes presentes na cultura chinesa.

    Os cinco elementos, a água. O lago que abriga e movimenta a menina de vestido com detalhes carmim como escamas e logo a menina mãe se junta a esta paisagem yin e yang, o céu e a terra, do efêmero e do imortal, do claro e do escuro, da inércia e do ritmo. Imagem que se assemelha a de dois peixes dourados, a dualidade, o dois, retratados constantemente nas pinturas chinesas tradicionais. Carregando o significado da felicidade em função da liberdade proporcionada pelas águas. Da abundância, da comunhão.

Um filme que liberta

Por Ruth Menezes

Vi Elena duas vezes. Verei mais, com certeza. Mas, não consigo vê-lo e rotulá-lo como somente uma autobiografia. Elena, o filme, é um filme. Um filme de amor, dor e esperança. Um filme que liberta, que nos faz querer buscar o perfume, a essência. É poesia. Que brota da dor, que rompe o asfalto como a flor de Drummond. A cena da Petra dançando em Nova Iorque, no final do filme, me faz lembrar que a vida é bela e me faz seguir em frente e dançar na rua. Elena dá vontade de viver.

Eu não posso desistir

Por Fabíola Celina

Gostaria de dizer que eu sou apaixonada por artes, todo tipo,bom eu gosto muito de desenhar e vivo tentando entrar na faculdade de artes visuais desde o ano passado,já tenho 20 anos e vivo com muitas cobranças em casa, e ao assistir Elena,vi que os sentimentos, as vontades,o fracasso, isso tudo vindo de uma vez só tem que ser, e deve ser expressado em algo, senão a gente enlouquece mesmo,já pensei em desistir de tudo, de desistir da arte, mas Elena me ajudou a pensar diferente. Eu não posso desistir, se é disso que realmente gosto,eu era bastante tímida,não conseguia lidar com as pessoas, e só sabia me expressar nos desenhos, hoje já consigo dividir essas “crises” com amigos e família, e isso me ajuda, me acalma. quero agradecer por esse filme lindo, dizer que Elena onde quer que esteja, ela está radiante de tanto orgulho de você Petra e da sua mãe também. Muito obrigada por dividir dua dor, sua arte, seu pedaço comigo.

Parabéns!

Seu filme ainda reverbera aqui

Por Nika Braun

Petra, assisti o filme ontem na ucla e me emocionei. impossível não se identificar com elena (sou brasileira morando nos eua, atriz querendo trabalhar com cinema, apegada a minha mãe e com a mesma dor na garganta, na mesma parte do corpo que você explorou lindamente no filme).

O filme é lindo, sensível. uma belíssima homenagem a sua irmã.

Fiquei com vergonha de compartilhar com você na hora, visto que haviam perguntas pertinentes (e a minha seria só um singelo agradecimento). mas aqui vai:

Eu sinto esse nó desde adolescente também, o que sempre me fez refletir na morte e zno suicídio. Nunca cheguei a comete-lo, porém, e acho que porque sempre me veio a imagem da minha mãe sofrendo na minha cabeça, martelando, e me parecia insuportável causar isso pra ela. Talvez, se eu tivesse levado minha dor mais a sério, não teria levado tanto minha mãe em consideração e teria de fato me matado (principalmente no começo dos 20, que a dor é muito maior, sem fim).

Cá estou com 27 anos, a dor ainda existe, mas estou tentando domá-la com meditação e sorte de ter pessoas amáveis ao meu lado. Após seu filme, elena, você e a sua mãe preencheram meu coração, e elena também tornou-se parte da minha força contra essa dor.

Tive um professor que sempre dizia que o objetivo de uma obra de arte (seja teatro, filme, pintura, etc) é ser sentida, reverberada, ao oposto do que muitos tentam apenas entendê-la.

Seu filme ainda reverbera aqui, às 13:24, quase 19 horas após assisti-lo.

Parabéns e obrigada!

Uma sensibilidade emocionante

Por Marcos Borba – 23 de maio de 2013

ELENA é um filme que vai te ganhando aos poucos e, quando você percebe, já esta todo envolvido com a história. Com um texto poético, uma fotografia de muito bom gosto, uma sensibilidade emocionante, o filme trabalha questões complicadas como a morte, a superação dos traumas, os sonhos e as crises existenciais de uma forma harmônica e simples.

É um dos poucos longos brasileiros que consegue mesclar conteúdo, beleza e emoção sem perder o charme e o brilho de uma produção cultural de qualidade.

A essência de muitos artistas

Loara Gonçalves – 11 de julho de 2013

Um documentário lúdico, que nos propõem equacionar valores, verdades (…) Um filme que acima de tudo nos causa sensações, é possível sofrer, amar, vibrar e até mesmo morrer com os sonhos de alguém que queria uma única coisa, transbordar, transcender em arte. ELENA é a essência de muitos artistas, Elena é o grito, o luto! Elena é a arte que pulsa no coração de cada artista. Sem mais.

A profundidade da alma

Por Lua Garcez – 5 de julho de 2013

Qual a profundidade de uma alma? ELENA pode ser visto como a história de uma menina de espírito forte, certa de seus sonhos e vontades, com um fogo dentro de si que vorazmente avança sobre todos que a cercam, arrebatando-os. Mas, na verdade, o filme mostra a proporção que a saudade toma, e ela está ali, física e palpável o tempo todo. Mostra com delicadeza e poesia que a saudade é o mais profundo patamar da alma.

Segredos bons

Por Flavio de Castro – 24 de junho de 2013

Eu sempre falo em catarse com os alunos na escola. Mas, hoje, ela me pegou em cheio, numa sala de cinema, e levou de mim algumas luas que eu carrego. Pois “a dor se transforma em água” e tanto emoção guardada escorre liquefeita em memória. O coração fica valiosamente vazio, e os olhos repletos de relances que evocam Klimt, Sophia Copolla e uma luz difusa que me promete os segredos bons dessa vida.
O filme, tão triste e bonito, bagunçou tudo aqui dentro. Para melhor.

Lindo e doloroso

Por Thais Francoski – 5 de junho de 2013

Gosto do ser humano de verdade, que não tem vergonha de demonstrar o que sente, que sofre sem vergonha, que aceita a degradação física que nossos pensamentos, às vezes, nos levam a sofrer. Elena reúne todos esses aspectos de forma magnânima. Saí do cinema com todos meus sentidos aguçados. Foi uma experiência incrivelmente intensa, uma beleza que machuca. Lindo e doloroso.

Silêncio cúmplice

Por Ana Cabral – 5 de junho de 2013

A dor, que a ela tornou-se insustentável, terá se multiplicado pelas almas dos que a amavam?

Talvez não.

Quem sabe, tenha se diluído entre os corações femininos que a cercavam.

Aquela dor, insustentável a uma alma só, se diluiu em duas, ou em quantas foram as almas por aquela dor atingidas.

A mesma dor que ardia o peito sem nome, encharcada de solidão, tornou-se dor de saudade, diluída em outros peitos, em muitas outras dores, com infinitos outros nomes.

Tornou-se dor compartilhada nos olhares, nos abraços e no silêncio cúmplice.

Tornou-se dor de amor, que transforma tudo, que recria, que revive, que transgride a morte e alcança o sonho que protagoniza a tela das outras vidas

Luz do luar

Por Rafael Da Costa Silva – Belo Horizonte – 4 de junho de 2013

A luz do luar é nossa testemunha ocular

De todo amor que em nosso peito há

Não há como fugir do encanto

Da magia

A lua nos ilumina

Aquece

Hipnotiza

É ela a lua que nos ensina

A verdadeira forma de amar…

Laços humanos

Por André Pollak – 04 de junho de 2013

A fragilidade dos laços humanos visto por uma ótica que mistura nostalgia e sensações que anseiam em ser revividas, a saudade que é exposta de uma forma que possa ser consumida em vídeos e lembranças assistidas, introspecção de uma forma detalhada, o nosso interior revisitado várias vezes, a dor visceral de não poder voltar ao estado bruto do calor e carinho de uma pessoa, resquícios de momentos que agora insistem em virar lembranças, a difícil aceitação de que somos humanos mortais, quando a nossa vida passa a ser confudida com um filme encenado e de quando tomamos a certeza que nem sempre somos donos do nosso próprio roteiro.

A tristeza da verdade da vida

Por Pedro D’Água – 31 de maio de 2013

Foi a primeira vez que sai do cinema, e vi aquela reação conjunta. Todos sentados em silêncio incrédulos, a sensibilidade, a sutileza, a tristeza da verdade da vida, pegou tão de surpresa a todos que esperam apenas um bom filme “cult”. Meus parabéns a Petra, e sua família pela coragem e sensibilidade única com que expuseram sua história tão sensível, tão linda e de forma tão delicada. Foi impressionante.

Dançando com a lua

Por Cris Matsuoka – 29 de maio de 2013

Elena queria tanto fazer cinema que virou filme. E não foi um filme qualquer, foi um filme forte, foi um filme onde todas as sensações te invadem, um filme intenso, como ela deveria ser.

Elena deve estar dançando com a lua no céu, feliz por saber que ficou imortalizada no olhar da irmã, que renasceu para morrer de novo, agora em forma de poesia…

Mas afinal, quem é Elena?

Elena somos todas nós, mulheres, que neste rito de passagem pela vida, seguimos deixando rastros submersos entre tantos personagens que construímos para passar por ela sem deixar que ela nos leve.

Cris Matsuoka é produtora visual

As tempestades íntimas

Por Mariana Portela – 29 de maio de 2013

Todo poeta é um escravo da verdade. E não de forma axiomática, impositiva, encerrada em única possibilidade. A verdade da qual o poeta é um mero instrumento está situada em uma compreensão mais antiga, oriunda da sabedoria que só alcançou os gregos: aletheia. O não esquecimento.

Quando a poesia se torna maior que o seu criador, um estranho fenômeno acomete sua obra: autor de sua solidão, o poeta é capaz de entregar-se ao mundo e doar sua sensibilidade ao plano cósmico, ontológico. Seus dizeres sucumbem à imensidão.

A tranquilidade, enfim, pousa em seus dedos exaustos. Um sono secular invade suas pálpebras inchadas, dilacerando as reminiscências. Ah, como os retalhos do vivido são uma frustrada tentativa de apropriação! Já não é possível imaginar versos em sua concepção, ainda invólucro no coração do pensamento. O universo inunda seu artista e suas águas tornam-se o novo ventre.

Acontece que a doação pode facilmente se transformar em sacrifício. A missão de deixar o Cosmos se apoderar do corpo, da alma, das entranhas é quase insuportável. A arte exige, às vezes, que a vida seja interrompida.

Qual é o peso de sobreviver ao próprio destino? Em qual palavra pode se encontrar abrigo que apazigue o deserto visceral? Quando uma ferida consegue avistar a primeira camada de pele?

É apenas em nueza absoluta. Ao escancarar a fragilidade pesada. Ao gritar para os abismos quais cicatrizes escrevem sua existência. Ao desvendar a multiplicidade de eus despedaçados é possível sonhar uma vez mais.

Por estas razões Elena não é um documentário de cunho pessoal. Não é uma elaboração das “dores que não doem, nem na alma”. O filme confunde-se com a história de todos os artistas que povoaram este mísero corpo celeste.

A protagonista carrega o peso da arte. A irmã tem a missão de desanuviar sua ira, sua incompreensão, seu amor preso às lembranças infantes. Com o dever de salvar a si e a sua Mãe, revelando o inconsolável.

“Hoje, falho de ti, sou dois a sós”, disse Pessoa ao indignar-se com a ausência de seu melhor amigo.  Quantas madrugadas você não sentiu o mesmo verso, Petra? Quantos naufrágios emanaram de seus olhos, nesta busca invencível pela metade que lhe falha?

Só a coragem é capaz de navegar os esboços e tingir a realidade em quimeras. Sinto-me covarde frente à sua poesia. Quantas palavras estão enclausuradas dentro de mim, esperneando para habitarem um outro mundo que não seja eu. Quanto medo tenho de confessar meus precipícios!

Petra, a plenitude de sua poesia me ensinou que as tempestades íntimas impedem a conjugação da tristeza, desde que haja força para atravessar os mistérios da angústia. As águas retornarão, em calmaria. Límpidas. Salpicadas por tons prateados. É Elena, lunar, luminosa, em órbita ao nosso redor, quando os escuros parecem intransponíveis.

 

A arte do encontro

Por Gabriel Martinho – 29 de maio de 2013

Cada vez mais tenho percebido como o cinema trata de falar de verdades, por mais fantasiosas que possam ser – falar de e com sentimento. Seguramente, o filme de vocês tem isso muito explícito; é uma busca muito real. Eu nunca perdi alguém próximo dessa maneira e, pela narrativa do filme, vi claramente a busca por si própria falando daquilo que mais tem a ver com a sombra que foi, e imagino que ainda seja, a irmã. Acho que consigo ter alguma noção da angústia que deve ter sido viver todo um período como um hiato, tentando entender e depois reconstruir essa memória tão sincera e poética. Me afetou e me senti mais perto de uma busca que tenho com a minha vinda a Buenos Aires. Acredito na arte do encontro do Vinicius [de Moraes].

Criar em cima de todos os derramamentos de lágrimas

Por Doralice Alice – 29 de maio de 2013

Eu não tive uma irmã como a Elena. Na verdade, eu fui a Elena da minha irmã por muito tempo. A Elena da minha mãe também, que se parece muito com a mãe delas.

Hoje tenho 24 anos, estudo cinema e torço pra que essa carga de tentativas de ir embora me traga um filho bonito como o esse filme.

Depois de assistir a essa belíssima obra e de chorar muito, me convenci de que não sou Elena, mas que estou mais pra Petra. Aquela que vai criar em cima de todos os derramamentos de lágrimas.

A difícil busca da identidade

Por Mayara Miranda – 29 de maio de 2013

Saí de ELENA repensando a minha relação com minhas irmãs, com minha mãe… A difícil busca da identidade quando os traços são tão parecidos. Me vi em Elena, em Petra e em sua mãe. É tão bonito e dói tanto! E no final eu quis dançar com a lua, e não desaparecer.

Uma reparação

Por Bel Tatit – 28 de maio de 2013

Que filme lindo e emocionante!

Além de ser um filme de uma historia pessoal e de ter profundas reflexões sobre os temas da angústia, da morte e sobre o feminino, ainda acho que é um filme político. Quando retoma as marcas de um corpo que viveu na clandestinidade, no anonimato, bem como as poucas possibilidades de trabalho (artístico) no Brasil daquela época, o filme apresenta os possíveis efeitos subjetivos do contexto social ditatorial. Tenho uma irmã 12 anos mais velha que eu também, atriz e cineasta (acabou de lançar “Em Busca de Iara”) e que também tem suas próprias marcas profundas e sofridas daquele período. Com ELENA, pude retomar também a história da minha irmã e do que aquela geração, filha da ditadura, viveu. Realizar e lançar um filme no Brasil com o nome da Elena é quase que uma reparação (sempre incompleta e impossível) do sofrimento trazido pelo anonimato, e pelas dificuldades de inserção no social por meio da arte. Parece que finalmente você conseguiu tirá-la do anonimato.

Como profissional da saúde, ainda tenho que dizer que você trata a tristeza profunda de uma forma nada patologizante e muito real. Mais uma vez vejo, o seu filme como um filme político, pois conta uma história que é pessoal e social ao mesmo tempo, mas que também não simplifica, nem traz o tema como o da depressão de uma forma ideologizante (como acontece normalmente).

Sinto

Por Salete Alves – 28 de maio de 2013

Devagar sinto cada tom entrando e infiltrando-se nas entranhas, cada suspirar um nova viagem. Não sei quem pode ser aquela moça que vejo em uma rua sozinha à espera de um nada. Pegar e soltar os sons, fazer com ele o movimento rotatório e circulatório, do círculo para as veias. Lá vem… aquela suave sensação de preenchimento pelas falas não ditas. O que me enche são as poesias perdidas e os acordes de canções singelas. Acordo no meio da noite e consigo enxergar eu em meio as carros dançando feito uma mulher da noite. Elena, esse é o nome da vertigem que passou a transformar as minhas quedas em poesia. Ah noite! Se eu pudesse eu engolia você e guardaria pra sempre os teus segredos. Essa saiu assim, meio que querendo falar com ela. Agora deixe que eu te conte qualquer pedaço de palavra… eu te sinto Elena.

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Fiquei encantada com o filme. Muitas coisas que sinto, de certa maneira compartilhei com o filme. As imagens, juntamente com a trilha sonora, levou-me para a pura essência do meu ser. Ser esse que se encontra muitas vezes perdido e solto por aí. A cada momento do dia, sinto como se uma bela sifônia tivesse tocando e ponho-me a querer dançar e rodar, em um movimento tão lípido e intimo faço a vontade da minha alma. Estou em êxtase … Elena tem me feito ser ser dor que doí e vira lembranças… de braços abertos estou seguindo o movimento da água.

Uma poesia, nadando entre luz e escuridão, mas sempre luminoso

Por Emilie Pouget – 28 de maio de 2013

O filme é uma poesia, nadando entre luz e escuridão, mas sempre luminoso.

Conseguiu-se filmar a ausência, o peso do legado que acaba sendo um motor.

Questiona também a expressão, a violência da sua necessidade e também a representação…

Delicadeza

Por Daniela Santos – 28 de maio de 2013

Vi Elena ontem e simplesmente amei! Nada do que eu tenha visto em cinema ou livros se compara à delicadeza, sensibilidade e ao amor que conseguiram expressar no filme.

Foi um ato de doação dos seus íntimos para uma história se tornar universal

Por Welder de Lavor – 28 de maio de 2013

Acabo de assistir ao seu filme e gostaria muito de agradecer por nos presentear com esse relato, com o olhar delicado sobre um assunto tão difícil… Eu gostei muito da forma como foi conduzida essa história. Construiu-se uma história que chegou em cada um de uma forma particular, permitindo cada um ter a sua identificação e experiência. Foi um ato de doação de seus íntimos para uma história se tornar universal, quando seria muito fácil cair no psicodrama ou na autoterapia, mas não, doou-se a experiência de vida, pintando poeticamente a tela, e assim, nos fazendo enxergar as nossas próprias vidas.

Ainda estou muito comovido com o que assisti, e muito tocado com a história. Não conheci o grupo Boi Voador pessoalmente, mas o estudei porque sempre gostei da proposta deles. Tive contato com vários amigos e professores que integraram o grupo e que conheceram Elena com certeza, e sempre admirei a pesquisa deles, que se tornaram referência e que carrego comigo.

Me identifiquei muito com os momentos em que Petra atravessa, em exatos momentos em que eu também os cruzava. Coincidentemente, exatos dois meses separam os nosso nascimentos – nasci em 08 de maio de 83. Também sou ator, me formei no Indac, na mesma época que a Carô estudou lá.

Vendo o filme, entendo e compreendo exatamente Elena. Nós artistas temos inquietações e estamos sempre buscando algo, mesmo sabendo que talvez não alcancemos nessa existência. Agora ela está eternizada para o todo e sempre, nesse poder mágico que é o cinema. Sabemos que o nosso país teve várias lacunas culturais, o cinema ficou muito atrasado e perdido, mas me entusiasma saber que uma nova geração de talentosos artistas vão mudar a histórias do cinema brasileiro, vamos recuperar o tempo perdido, e esse filme hoje é a prova, é a premonição disso. Elena se orgulha em saber que esse filme faz parte da mudança do quadro como foi nos começo dos 90.

 

ELENA e afeto

por Dina Moscovici – 28 de maio de 2013

Que bom que você conseguiu sair da melancolia para poder elaborar seu luto. É um filme carregado de afeto e pleno de sensibilidade. A lembrança de Ofélia é muito pertinente e enriquece o filme. Linda fotografia. Uma bela família, com tudo… mas faltando aquilo que falta mesmo quando se pensa ter tudo.

Ainda Elena

Por Paulinha Moreira – 16 de maio de 2013

Saí do cinema tonta. O corpo, pelo salgadinho que comi antes da sessão. A alma, pela história. A quem Petra procura? Elena? Ela mesma? A quem eu procuro? Eu procuro?

Vi delicadeza, profundidade, intensidade, vida e morte, em meio a um mundo louco – geralmente tão superficial e tão “para inglês ver”. Por que será que as pessoas assim, desse jeito, sofrem tanto? Acho que é porque sentir dói. Ser dói. Encontrar-se e descobrir-se dói. Sentir é padecer. E almas delicadas, porque sensíveis, padecem com o mínimo, com o insuspeito, com o que parece bobagem, com o despercebido. Sim, pela capacidade de sentir aguçada, elas percebem o despercebido; e isso dói.

Querer mais dói. Mais fácil acostumar-se com o habitual, querer menos, sonhar menos, sentir menos, ser menos. A Pequena Seria morreu por querer muito. Será que eu tenho medo de querer?

Cá com meus botões, começo a ficar com medo da minha melancolia intrínseca (oprimida e reprimida) e assumo, com pesar, que sou covarde… acho que dançar com a lua deve ser bom…

Paulinha Moreira é professora universitária

“Nem sempre somos donos do nosso próprio roteiro”

Por André Pollak – 16 de maio de 2013

A fragilidade dos laços humanos visto por uma ótica que mistura nostalgia e sensações que anseiam em ser revividas, a saudade que é exposta de uma forma que possa ser consumida em vídeos e lembranças assistidas, introspecção de uma forma detalhada, o nosso interior revisitado várias vezes, a dor visceral de não poder voltar ao estado bruto do calor e carinho de uma pessoa, resquícios de momentos que agora insistem em virar lembranças, a difícil aceitação de que somos humanos mortais, quando a nossa vida passa a ser confudida com um filme encenado e de quando tomamos a certeza que nem sempre somos donos do nosso próprio roteiro.

André Pollak é diretor de arte

Travessia

Por Danieli Aparecida dos Santos – 16 de maio de 2013

E no silêncio, o efêmero dança. Enquanto nós, em passos fugidios, tocamos levemente o impalpável e seguimos.

Corrompidos e assombrados com o torpor das chamas altas. E o silêncio nos subtrai, pouco a pouco, aponta a fronteira do indizível, do sem-nome, do impossível; avança sobre nossos retratos sem molduras, cavalga em nosso corpo-memória e gasta o tempo que há em nós.  Esculpe em nossa carne um flagelo em cores mornas. E se vê medo nos olhos e ventos. Fome anterior e perpétua.

O oblíquo das horas e as repetições todas. Os pequenos invólucros. As esquinas. Tantos caminhos e nenhum. Tantos caminhos e um só.

Água escorrendo, esgarçando nossas superfícies e poros. Estradas abertas. O dentro e o fora e o não-mais. Costuramos o silêncio com nossos olhos baços. Remendamos os espaços e abraços fortuitos, as tréguas. deixamos os rastros, a madeira fina e seca e traçamos descalços o rumo do infindo, incansáveis. Nossos nós e pedrarias, pó. Nossas estacas. Encruzilhadas. O fio cru do açoite, sem nenhuma cruz, a noite fria. Atravessamos, hesitantes e de uma vez por todas. O mar que é o medo do mar. E lágrima. E sal. Atravessamos. O fogo e a coragem do fogo. E depois, nem medo ou coragem. Vida se refazendo morte se refazendo vida, própria vida própria morte nome próprio, impróprio, puro. Sorte? Aspereza e imprecisão, precisão, gatilho, vicissitudes. E sem mais, margem. água. Lume. Mistério último, fora do tempo das esperas. Travessia. Interpéries. Atravessamos. Enquanto incessantemente somos atravessados.

Enquanto aqui, já  incorrigivelmente atravessada  por Elena, que ainda não conheci mas pressinto. E por tantas outras, cujas travessias diariamente me perpassam.

E hoje, após certo período de ansiedade, finalmente fui tentar conhecer Elena… cheguei há pouco, e ainda não há palavras para descrever o que senti… a sensação de algo que se abriu permanece… um escuro, um grito no escuro, uma força, uma leveza… algo  entre  a sutileza e a dor. e a coragem, seja da beleza, seja da dor. Elena e seus emaranhados de fios que nos conectam, nos carregam, nos tornam densos, desnudos… Tão dificil nominar… ao mesmo tempo em que se faz tão necessário… dar voz ao silêncio aterrador em que somos lançados…  Elena é indecifrável. E me grita, me lança sozinha no escuro e fundo, e, silenciosa, me resgasta.

 

Tocada, profundamente,

e profundamente agradecida,

 

Danieli Aparecida dos Santos é psicóloga

“Assistir ELENA é ser conduzido a esse lugar de afeto”

Por Erick Leite – 15 de maio de 2013

Existe um lugar no tempo da memória que não está no presente, tampouco no passado. Um lugar que permite a cura, não aquela clínica, mas a do esvaziamento. Digamos, por metáfora, a cura de um queijo. E é neste lugar que se opera o esquecimento, deixando os riscos de uma memória em ruínas. O lugar dessas memórias (ar)riscadas seria então o lugar do afeto.

Assistir Elena é ser conduzido a esse lugar de afeto. E Petra, magistralmente nos leva pelas mãos… não, pelo calor de um abraço, a compartilhar não o que foi a história de Elena, mas o que Elena é, a partir desse afetuoso olhar.

No dia 10 de maio saí do cinema com a certeza de ter assistido um filme lindo, sensível e que certamente marcará minha trajetória.

Queria dar um abraço na Petra!

“ELENA foi quase como um abraço em mim”

Por Mariana Vaz – 15 de maio de 2013
Assisti ao filme na época da Mostra, em 2012. Tenho uma história parecida com a dela e, da mesma forma que sua história e a de Elena foi quase como um abraço em mim, imagino que a minha também possa transmitir algumas coisas boas.Nasci gêmea, monozigótica ou mais conhecido como “gêmeos idênticos”. Minha irmã Carolina e eu. Ser gêmea é um paradoxo no mundo atual, que se caracteriza pela singularidade do indivíduo, de laços fluídos e afetos instantâneos: a ligação gemelar significa compartilhar tudo, começando pela própria aparência (no caso de univitelinos)- o quê mais de singular e próprio um indivíduo pode ter.
Carola e eu nascemos numa madrugada de lua cheia de 11 de setembro do ano de 76. Minha mãe e meu pai se casaram, mas se separam em pouco tempo. Logo após a separação, aceitou uma proposta para trabalhar no Rio de Janeiro. Carola cresceu tímida e introvertida, mas profundamente inteligente. Coube a mim o papel de “relações – públicas” da dupla desde cedo. Todos nossos amigos na infância eram primeiro “filtrados”por mim e, se “aprovados”, se tornavam amigos “das gêmeas”. Essa dinâmica perdurou até a adolescência, quando Carola se libertou um pouco da sua timidez e quis escolher ela própria seus amigos.
Carola também tinha uma inclinação claramente intelectual. Lia muito desde a pré-adolescência. E escrevia muito bem também. Aquele era o “território” dela: ela era a gêmea intelectual. Eu tinha um perfil mais artístico – fiz teatro, fui assistente de uma pintora – e comunicativo. Cuidávamos emocionalmente uma da outra até o fim: brigávamos com meus pais caso a outra sofresse alguma “injustiça”, éramos capaz de nos meter nos affairs uma da outra caso o candidato começasse a decepcionar e qualquer briga da minha irmã em que ela precisasse de mim, ela sabia que me teria como aliada. E vice-versa. Nos defendemos, protegemos e amamos desde o começo até o fim.
Carola se formou como psicanalista e tinha como hobby a escrita; alimentou por quase 4 anos dois blogues. Eu fiz uma escolha mais “racional” por Administração de Empresas para uma carreira em Marketing. Naquela dinâmica de “dupla”, a Carola era a intelectual e eu quem trazia a “estabilidade” e, portanto, nada mais lógico que optar por uma carreira mais “estável” também. Carola já desde a adolescência demonstrava uma personalidade extremamente sensível, introvertida e muitas vezes temperamental. Muitas das frases de Elena me lembraram as coisas que minha irmã me dizia sobre ela mesma. Ela mantinha um blog de poesias e contos e, além da psicanálise, estava fazendo mestrado em Letras na Unicamp. Durante os 32 anos das nossas vidas, houve períodos que moramos juntas, depois separadas – ela se casou uma época – mas sempre nos falávamos todos os dias. Não é força de expressão.

Tínhamos pequenos rituais só nossos como tomar café da manhã juntas. Mesmo já morando em apartamentos diferentes – muitas vezes combinávamos de nos encontrar na padaria na esquina da casa dela, apenas para tomar café da manhã. Num desses domingos em que deveríamos nos encontrar, no dia 31 de maio de 2009, passei no seu apartamento e a encontrei morta. Ela deixou uma carta, a única, para mim. Do dia para noite, me vi amputada de alguém que foi o grande amor da minha vida e ocupou diversos papéis: de irmâ gêmea, melhor amiga, referência intelectual, mãe, filha…. Posso afirmar sem nenhum exagero que era a pessoa mais importante da minha vida.

Nesses 4 anos após a morte de minha irmã, estive muito próxima de me entregar e ir junto com ela. Senti e ainda sinto, que um pedaço de mim foi amputado. Um pedaço físico, de alma, um pedaço do meu passado e do meu futuro. Sequei, como uma árvore que seca e morre. Estive realmente muito perto da morte. Mas, por uma dessas viradas inacreditáveis da vida, surgiu uma pessoa que me resgatou. Ele, com quem acabei casando em apenas 6 meses, me acolheu e me deu o colo que eu precisava para chorar. Foi o amor dele que me fez acreditar que poderia ir em frente. Quando estávamos fazendo planos, soubemos que ele estava com um tumor maligno de fígado e precisaria de um transplante hepático. Juntos, hoje, esperamos o transplante e cumprimos as sessões de quimios. O tumor regrediu 100% e, há cerca de um mês recebi uma notícia inacreditável: estou grávida de gêmeos! Senti, pela primeira vez, que minha irmã voltava, de uma forma diferente, para junto de mim.

Espero que a minha história transmita todos os sentimentos que senti quando vi o filme.

Mariana Vaz faz mestrado em cinema na Cásper Líbero

“Mas há aposta na vida com todas suas precariedades”

Por Denilson Lopes – 15 de maio de 2013

Acabo de ver Elena de Petra Costa. É uma bela estreia de uma diretora que não teme dizer o sentimento, que não teme mesmo o clichê que ao fim e ao cabo nos atravessa e nos constitui. Primeiro, uma estória de fantasmas. Fantasma é Elena, a irmã que morreu, mas também Petra, a irmã que sobrevive e vai para NY no rastro de sua lembrança. Fantasmática é NY feita de pessoas desconhecidas, estrangeiras, aparições fugazes onde Elena não se encontra e onde Petra corre o risco de se perder. NY é Elena . Segundo, uma estória de busca de memórias por parte de uma jovem mulher que se refaz e de uma diretora se faz artista à sombra da irmã que não conseguiu ser, que escuta a mãe contar a estória do suicídio de Elena e se colocar na mesma cama em que ela se matou, na mesma posição em que a encontrou morta. Mãe e filha reencenam mesmo a perda de Elena não para apagá-la mas para redimensioná-la. Terceiro, uma delicada estória de amor de duas irmãs, da mãe que quase se mata após ver a filha morrendo, uma estória de uma linhagem feminina que desconstrói o mito da Ofélia. Não se trata de afirmar o clichê da mulher que se desespera pelo amor nem pela ausência do amor. Aqui não há Hamlet. Há muitas Ofélias, algumas possivelmente morreram, mas outras, muitas renascem a partir das águas escuras de melancolia. Nada aqui é solar. É uma estória séria de atmosferas sutis, quase sem lágrimas (ao menos na tela) nem gritos. Não há ironia. Mesmo a alegria que surge não como redenção mas, como definia Nietzsche, por enfrentar a vida com toda sua dor. Alegria discreta, sem sorriso final, sem exuberância. Há morte e dificuldade de perder. Mas há aposta na vida com todas suas precariedades.

Denilson lopes é professor e crítico de cinema

Eu conheci Elena

Por Bárbara Guimarães – 14 de maio de 2013

Ou não. Na verdade, ela foi amiga da minha irmã mais velha, e por isso frequentou nossa casa durante um período, uns dois anos antes da mudança para Nova Iorque. Só conheci Elena em meu papel de irmã mais nova. A adolescente que as “adultas” de dezoito anos não querem por perto.

Mas Elena não parecia se preocupar com isso de ser adulta, então não me olhava como um ser indesejável. Pelo contrário, muitas vezes vasculhou minha rebeldia punk com seus olhos curiosos. Do mesmo jeito que vasculhava tudo e todos, buscando e bebendo vida.

Imagens de Elena flutuam em minha memória, distantes. Olhos grandes pelo tanto que tentam enxergar; olhos famintos e inconstantes. A testa muito alta, o corpo muito magro. Esguia, esguia. Elena desembestada, com braços que se agitam desordenadamente quando fala entusiasmada sobre alguma coisa. Mãos finas, de dedos longos. Seios como uma instalação insensata, não sei se pela magreza do corpo ou pelo ar de moleque de quem o veste.

Elena feita de fogo, como um Hélios que queima por dentro e brilha por fora. Pessoas gravitando em volta de Elena, sol noturno. Elena sozinha – mas também sozinha como eu adoraria ser naquela época, sem os pais constantemente por perto.

Um dia, trazendo consigo uma Petra criança, feliz e dourada, a mãe de Elena volta para casa. Mãe que me soava a mistério, e cujos movimentos eram elegantes, suaves e precisos. Uma mulher que aparentava ser de um mundo acima do nosso, além do banal e ordinário. Tão bonita… E Elena feliz, querendo ninho. Ou não querendo mais.

Elena que não parava. Que falava alto. Que parecia não ter controle de tudo o que queimava ali dentro. Elena que ria muito e depois emudecia. Elena que tocava nas pessoas. Encostava aquela mão atenta no seu braço, no seu cabelo, sabendo que essa também é uma forma de conhecimento do outro. E logo mudava de rumo, inconstância eterna. Elena que queria mil coisas ao mesmo tempo. E carregava uma carência infinita.

Fragmentos de Elena. Linda, louca, livre. Elena que sonha e que vai buscar seu rumo.

Elena sumida. Elena está vivendo teatro. Elena, dizem, tem muito talento. Elena é amiga de atores e diretores. Elena foi para Nova Iorque.

E de repente Elena que morre, consumida por aquele fogo que lhe exige muito mais do que ela pode aguentar. Elena que vira arte em estado etéreo.

Anos depois, essa Elena dispersa começa lentamente a se reunir e renascer, pelas mãos da irmã. Até que um dia ela enfim respira, se espreguiça, abre seus grandes olhos, volta a ver o mundo. E se levanta, ergue os braços e gira, gira, gira, a bailarina. Brilhando, ela ilumina a casa sombria. Viva, Elena.

Sorrindo, Elena faz uma grande reverência e enfim sai de cena. Gestos agora suaves, calmos. Apaziguados.

Eu conheci Elena. Não… eu não a conheci. Será mesmo que alguém – além do fogo – conheceu Elena?

Bárbara Guimarães é tradutora, cantora e escritora. 

A vida não é um filme

 Glenda Rodrigues – 14 de maio de 2013

Elena, esse é meu nome. Nunca procurei saber o significado ou até mesmo o que ele significa para os meus  pais.

Eu tenho um corpo fino, olhos estranhamente desenhados e os dedos dos pés feios.

Meu ossos doem com uma frequência inacreditável. Eu não enxergo de longe, vocês não sabem como é difícil pegar um ônibus. Primeiro ele vem, depois eu aperto os meus olhos com toda força, então enxergo, mas como de costume nunca é o meu ônibus.

Eu sou um tanto solitária, apesar de muitos amigos. E quanto mais eu envelheço, mais eu percebo que eles estão indo, mesmo não querendo.

Há quem diga que eu cheguei ao fundo do poço mesmo tão jovem, eu digo que não. Se vocês estivessem aqui perceberiam.

Eu tenho um gato e uma cadela, seus nomes são Napoleão e Mia. Eu moro em um apartamento, tenho um fogão bonito – e nem preciso de um livro de receitas para cozinhar – Eu escrevo, duas vezes por semana dou aula de italiano, e frequentemente viajo sozinha sem rumo. Danço nua pela casa sem perigo de ser vista. Tenho um cara – eu não gosto do nome namorado, soa estranho quando falo – Ele costuma vir sempre aqui, tomamos umas doses de tequila, transamos, lemos livros, dormimos de meia, ele me faz carinho. Só não digo que somos mais íntimos porque nunca viajamos juntos, ele diversas vezes se auto convidou mas eu sempre dou um jeito e acabo indo sozinha. Não que eu não o ame, mas eu mereço a minha companhia as vezes.

Eu tento rir o máximo que eu posso, principalmente do passado, ele não é tão doce como nos dias de hoje, porém não posso dizer que ele foi tão ruim.

Eu me encanto facilmente, principalmente quando vejo uma rosa em um jardim qualquer, ela representa toda uma história que precisa ser contada algum dia.

Ainda não tive filhos, me acho um tanto nova pra isso, meu passaporte ainda nem está completamente preenchido, mas daqui à alguns anos, em um futuro não tão distante, provavelmente eu estarei apreciando os belos olhos de um bebezinho sem maldade ou alguma perspectiva.

Me lembro perfeitamente do dia em que entrei em meu apartamento, a menina sem perspectiva tinha conseguido sair de casa. Eu simplesmente passei o dia dançando sozinha nesse lugar vazio e cheio de caixas que deveriam ser esvaziadas.

Lembro de quando eu era pequena, achei uma caixinha de fósforo no chão da cozinha e corri direto para o meu quarto transformando aquela caixa em uma casinha de boneca, Adorava aquele mundo, meu mundo.

Meu nome é Elena, eu tenho uma vida, um mundo, perspectivas, eu não estou só, eu sou feliz e isso não é um filme.

A blogueira Glenda Rodrigues escreveu o texto acima após assistir ao filme e publicou originalmente o texto em seu blog

“Eu já encontrei Elena, ou parte dela, no cinema e em mim”

Por Julia Forlani – 13 de maio de 2013

“Eu já encontrei Elena, ou parte dela, no cinema e em mim. Ela está nas telonas e é realmente imperdível: sensível, feminino! Uma experiência cinematrográfica única. Dá vontade de pegar na mão dos amigos e das amigas e levar, vem…Queridos essa é pra não perder.”

Julia Forlani é analista de política de drogas internacional

“Maravilhoso é o artista que consegue fazer da tristeza uma outra coisa. Uma coisa boa. Um filme”

Por Vera Egito – 1 de maio de 2013

Petra, querida,

não pude falar com você após o filme porque não achei que fosse aquele o momento para eu dizer tudo que senti. Nem sei se conseguiria, de qualquer maneira.

Passei esses dias pensando no filme. Com vários momentos e imagens na minha cabeça. Fiquei tão tocada com sua mãe… Agora que eu tenho minha bebê consigo imaginar a dor sem fim. Mas só imaginar. A dor é de quem tem, afinal.

Ontem de manhã, como já é costume aos domingos, peguei a Glorinha, botei Caetano para tocar e dançamos na sala. E me veio a imagem da Elena dançando com a pequena Petra. O choro veio incontrolável. E volta agora enquanto escrevo. Tudo que a gente tem é o momento. O instante-já.

Fui assistir a um filme sobre a sua irmã e acabei encontrando um filme sobre você, sobre família, sobre perda. Me fez pensar em como fugimos da tristeza, fingindo que ela não faz parte de nossa existência; que é uma estranha, quando, na verdade, ela está sempre presente. Ela nos é natural.

Maravilhoso é o artista que consegue fazer da tristeza uma outra coisa. Uma coisa boa. Um filme.

Parabéns.

Vera Egito é roteirista e diretora de cinema.

“ELENA é o poema que eu gostaria de ter escrito”

Por Ricardo Gazel – 1 de maio de 2013

Ontem peguei um avião em BH para ir a SP assistir ao filme ELENA na Mostra de Cinema de SP (outubro de 2012). Voltei hoje e, às 3 da manhã, continuo tonto com as emoções, a enxurrada de sentimentos que Elena despertou e revirou e acalmou e tornou a revirar e, sei, vai continuar revirando e acalmando e tornando a revirar por muitos dias ainda.

ELENA, o filme, é o poema que eu gostaria de ter escrito. Às vezes trágico como um verso de Bandeira (“a vida inteira que poderia ter sido e que não foi”), às vezes divertido como a cena da banheira quando a criança Petra não quer cantar enquanto se lava. Mas na maior parte do tempo sentimento puro, destilado, como uma redução de vinho onde o sabor é tão concentrado que uma porção, por menor que seja, te desperta viagens gustativas no tempo e no espaço. Imagine um filme que é uma concentração absoluta, fundamental de sentimentos, de emoções, de insights, a maioria destes da alma feminina. Um filme sobre mulheres, feito por mulheres (a equipe é predominantemente feminina e jovem), e que me fez, homem, chorar como não chorava desde a morte da minha mãe no ano passado.

ELENA não é um filme para os fracos de coração. No entanto é um filme de redenção, de completa aceitação da condição humana. Quando as luzes se acenderam ao final do filme ontem à noite, o silêncio era absoluto. Estava previsto um debate a seguir. Alguém da plateia disse que seria impossível debater. Estávamos todos ainda em estado-de-choque, seria necessário tempo para elaborar e absorver, mesmo que parcialmente, todas as emoções que o filme despertou para poder recobrar a capacidade da fala antes de qualquer debate. Creio que ELENA remeteu cada participante (ninguém é mero espectador de ELENA) à sua própria tragédia, sua própria perda, à sua necessidade de redenção. Lembrou-me o que li sobre a primeira apresentação de Vestido de Noiva de Nelson Rodrigues. Ao acender as luzes a plateia não reagia, anestesiada, em choque. Precisou de alguns minutos para o primeiro iniciar o aplauso e, crescendo, chegar à apoteose que foi. Quando as emoções são grandes, leva tempo para reagir. Mesmo agora, passadas mais de 24 horas que assisti a ELENA, minhas emoções estão à flor da pele, e vou ter que ruminá-las por muito tempo.

Ricardo Gazel é diretor do Instituto Inhotim.

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