Petra Costa no Metrópolis
4 de maio de 2013

O programa Metrópolis, da TV Cultura, de sexta passada (03.05) – mais precisamente na madrugada de sábado – convidou a diretora de ELENA, Petra Costa, para falar sobre o filme. Adriana Couto e Cunha Jr. conversam com Petra sobre os motivos que a levaram a fazer o filme, os temas abordados e a campanha “Quem é Elena?”. Assista à entrevista pela TV UOL ou clique aqui para assistir na página do Metrópolis. Se quiser, mais abaixo, publicamos a transcrição completa.

Adriana Couto:

Bom, teremos uma safra de documentários brasileiros no cinema, e uma boa safra! ELENA, da diretora e atriz Petra Costa é um deles. No seu primeiro longa a convidada de hoje se expõe profundamente ao mostrar sua jornada pra entender o que aconteceu com a irmã mais velha e também atriz, que muito jovem, teve um fim trágico. Muito obrigada Petra pela sua presença aqui no Metrópolis.

AC: Petra, o que te motivou a realizar esse documentário, algo tão pessoal, que mexe com a história da família… Qual foi o ponto de partida?

Petra Costa: O ponto de partida foi um curso com o Teatro da Vertigem em que eles me deram um pequeno papel escrito “livro da vida” e eu tinha que fazer uma cena. E eu voltei pra casa e acabei encontrando nos meus diários o meu livro da vida e por coincidência achei, pela primeira vez, um diário da Elena, que ela tinha escrito com a mesma idade que eu tinha na época, que era 17, 18 anos.  E me identifiquei profundamente com as palavras dela, pareciam que eram minhas próprias palavras, os mesmos pais, as mesmas crises…

AC: Ela era atriz também…

PC: …atriz também, mesma insegurança artística. E fiz uma cena em que misturava trechos do diário dela com trechos do meu, e esse foi o ponto de partida pro filme.

Cunha Jr.: Durante a mostra, a última mostra internacional de cinema [de São Paulo], houve um certo tititi, as pessoas todas querendo assistir muito o filme, né? Foi um dos filmes mais disputados inclusive, os ingressos acabaram logo. Eu consegui assistir e achei muito interessante essa forma como você contou uma história muito pessoal mas que transcende, não é? Pela forma, exatamente, como você contou. E eu muitas vezes não sabia onde estava você, onde estava sua irmã, onde estava o documentário, onde estava possivelmente uma ficção… Como é que foi isso pra fazer?

PC: Eu acho que o que mais me motivou a fazer o filme era encontrar um tema que era dramaturgicamente interessante, mais do que “Ai, quero contar uma história pessoal”. [E sim] “Olha que história intrigante que faz parte da minha vida que eu acho que vale a pena assistir o filme” e era justamente essa confusão de identidades, que está presente em filmes como “Vertigo” do Hitchcock , “A Dupla Vida de Veronique”, e então eu vi isso nesses diários, até antes de ver esses filmes  isso me hipnotizou, assim, eu queria contar.

AC: Você utiliza imagens dos arquivos da família e uma visita sua a Nova York, onde sua irmã estava, não é isso?

PC: Exatamente.

CJ: Você chegou a estudar em Nova York, foi isso?

PC: Eu fui pra Nova York com 19 anos que é a mesma idade com que a Elena foi pra lá.

AC: Você fez todo esse caminho dela?

PC: É. Era um pouco “ir exatamente para onde eu não deveria ir” porque se eu não tivesse ido, acho que o medo de que eu fosse virar ela e essa dúvida de quem era eu e era ela continuaria existente; eu tive que justamente ir pra esse lugar pra nossas identidades se separarem.

AC: A diferença de idade entre você e a Elena são 13 anos, né?

PC: 13 anos

AC: 13 anos… 13 anos é uma referência, né, de um irmão mais velho, uma irmã mais velha, é uma referência muito grande na vida…

CJ: Claro.

PC: É, ela era uma musa…

AC: Era, pra você, né? E a gente percebe isso no filme. Como cineasta, contar essa  história tão pessoal, descobrir esses caminhos, fazer o primeiro longa, qual é o presente, o resultado disso pra você, seu desenvolvimento como cineasta? Porque é forte, é marcante, é uma estreia que está sendo comentada.

PC: Foi muito legal. O filme levou três anos para fazer e foi uma escola de cinema, mesmo, assim, o percurso. Ele caminhou por diversas direções, fiz 50 entrevistas, tinha um momento que ele ia ser um documentário mais de entrevistas mesmo e aí depois que acabei optando pela ideia inicial que era algo que focasse na jornada psicológica das personagens.

CJ: E você, agora, quer dizer, o filme já viajou bastante mas qual é a carreira, agora, do filme?

PC: Agora, no que a gente está focando nossas energias é em fazer uma campanha pros temas que o filme aborda não morrerem na sala de cinema porque ele aborda temas que até hoje são bastante tabus no Brasil como os temas da mulher, os temas da tristeza, da depressão, da perda, da superação da perda. Então a gente está convidando pessoas do Brasil inteiro para mandarem suas próprias memórias inconsoláveis pra gente, suas memórias que não se apagam, suas experiências com suas “Elenas”.

CJ: Sim e mandarem pra onde?

PC: Mandarem pra nossa página no Facebook que é facebook.com/elenafilme, twitter ou nosso website.

CJ: Elena sem H?

PC: Elena sem H! E o mais simples é uma foto com uma plaquinha “Quem é Elena?” que pode ser feita das formas mais criativas possíveis e os ganhadores ganham um convite pra nossa festa de lançamento no dia 10 de maio com a participação da Céu e do Catatau.

AC: Vocês decidiram… claro, tem o lançamento ali, né, como chamariz, mas essas questões que você disse, você acha que são questões que ainda precisam ser discutidas, são tabus, é isso?

PC: Com certeza. E parte das respostas mais inspiradoras que eu e nossa equipe tem tido é que depois das questões do filme as pessoas se sentem compelidas a contar as próprias histórias, assim, de perda, e inspiradas a fazer algo artístico a partir dessas perdas e sempre falam que têm dificuldade de compartilhar. Porque é algo que não se fala, eu mesma quase nunca tinha falado sobre isso.

AC: Antes do filme era algo que ficava muito internalizado, muito guardado…

PC: Acho que é falando que se elabora.

AC: É.

JC: O filme estreia em capitais, primeiro São Paulo, Rio ou é…

PC: Dia 10 é em São Paulo, Rio, Salvador e Belo Horizonte.  E aí no dia 17, na semana seguinte, em outras cidades que a gente ainda não sabe exatamente o percurso mas na nossa página no Facebook terá.

CJ: Então, pessoal, fique atento aí, pra saber quando o filme estreia porque vale apena, é um filme lindo que vale a pena ser visto na tela grande, repito novamente!

AC: É verdade! Petra, muito obrigada pela sua presença no estúdio do Metrópolis e sucesso pro filme.

PC: De nada.



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