Quem é Elena?

Por: Anna Lydia Acuio – revista Garimpo Cultural – 31/8/2013

“A arte para mim é tudo, sem a arte eu prefiro morrer”.

Elena era uma  apaixonada pelo teatro. A arte que a conduzia, era sua alegria, o motivo de seus sonhos. Mas ao vê-los tão distante e esmagados por uma autocrítica exagerada- mesmo sendo vista como uma moça cheia de talentos -, se viu perdida, fora deste mundo. “Me sinto escura, no escuro… Meu coração tá tão triste que eu me sinto no direito de não perambular mais por aí com esse corpo que ocupa espaço e esmaga mais o que eu tenho de tão… tão frágil.”

Elena, documentário dirigido por Petra Costa, irmã da moça que dá nome à produção, tenta, através de arquivos pessoais, descobrir quem era a menina tão sorridente e carinhosa de sua infância, que dançava com a lua e contracenava com uma Petra ainda bebê.

A produção, ganhadora do melhor documentário  no Festival de Brasília, já é o documentário mais visto no Brasil e recebeu elogios de grandes nomes do cinema nacional, como Fernando Meirelles, Walter Salles, Dira Paes, Maria Flor, Caco Ciocles, entre outros.

Não é para menos. Elena é  pura poesia, sensível, emocionante, mas também perturbador. Petra faz de uma realidade tão crua e dura, como o suicídio de sua querida irmã – uma morte precoce, com apenas 20 anos, enquanto a diretora tinha 7 – , um instrumento de profunda reflexão. Mostra a situação de muitas mulheres na arte ,e que tiveram seus sonhos interrompidos, reproduzido em uma das partes mais belas do filme, a Dança na Água, paralelamente retrata a profundeza psicológica de cada ser humano, com sentimentos adversos e incompreensíveis.

O documentário, ao mesmo tempo em que parece ter sido feito para que Petra conhecesse um pouco de sua irmã, é também uma forma de exorcizar a dor da culpa e amenizá-la. Ao lembrar-se de Elena, revendo cenas de sua infância sonhadora e tão alegre, Petra consequentemente se cura.  “As dores viram água, e pouco a pouco viram memória”.

E  as lembranças que Petra tem,e que teimam em apagar de sua memória, se transformam, não só neste documentário, mas em dança, tal como elas faziam quando crianças.

“Você é a minha memória inconsolável, feita de pedra e sombra. E é dela que tudo nasce, e dança.”

Elena é promessa de uma sessão repleta de sensações. Somos convidados a participar da família Costa, tão escancarados ficam seus sentimentos. Sentimos a perda da primogênita, saudades de suas danças, de seus sonhos, de sua beleza e inocência.  Elena é mais que um documentário, é um encontro com as emoções mais contraditórias de nosso interior.

Por isso, talvez Elena seja um pouco de cada ser humano, talvez um pouco de cada artista.

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