Poesia dos que ficam

Por Marina Franco, enviado pelo Facebook – 15/9/2013


Paro nos setenta minutos faltando dez para que o vídeo acabe apenas para secar as lagrimas de um choro puro e involuntário que brotou em alguma fala de Elena, Petra ou de sua mãe. Esses minutos, que se passaram imperceptíveis a mim, parecem ter passado como o peso de uma eternidade para elas.

Para mim, cada minuto do filme é um corte fundo na alma, é uma respiração pesada preenchida com a dor silenciosa, uma dor que apenas se sente. Uma dor cantada pela luminosidade do longa, uma dor cantada pela mão da mãe de Petra em seu peito, no coração. Respiro fundo. Volto a soltar o filme, apenas para ver se as duas irmãs se encontram. Volto a soltar o filme, apenas para chorar novamente.

Pergunto-me se o que eu vejo é de fato um documentário, um filme, ou se na verdade, é apenas alguém dando vazão aos sentimentos por alguém que se foi em forma de arte. E me pergunto se esse alguém realmente se foi. Porque parece que está ali, em algum canto escondida, desparecida em uma cidade grande, no meio da multidão. Alguém que não é apenas mais uma na multidão.
Elena é real. Ela existiu. Existiu em algum tempo e espaço na vida de alguém. Elena é o nó invisível que une a mãe a irmã Petra em apenas uma só pessoa. E é esse nó que o documentário inteiro dialoga.

O inicio do documentário tem suas cenas montadas para acompanhar a narração de Petra que noz introduz sua irmã Elena e a história de sua família e seu mundo: cenas de Nova Iorque, de pessoas andando na rua são construídas para nos fazer crer que sua irmã está entre elas como se fossemos encontra-la ali, o que me faz pensar até que ponto a dor e o carinho, o desejo de reencontra-la, e a vontade de ser como ela para diminuir a ausência se mistura em Petra.

Entra em tão, as cenas de dança contracenadas mais uma vez com as da cidade conforme as gravações de Elena sobre sua vida em Nova Iorque, sobre a busca de seu sonho de ser atriz de cinema que parece que é em vão deixando incerto o momento em que ela começa a se auto destruir: a separação de seus pais ou a sua sensibilidade artística que a inunda como uma onda de escuridão e melancolia.

Mas ao longo do documentário inteiro, não sabemos quem Elena é. Temos apenas sua voz, que é facilmente confundida com a voz da irmã. Temos o seu rosto por inteiro, e nunca o rosto inteiro de Petra. A fotografia desfocada apenas nos mostra a visão de Petra, que se confunde e é sendo tragada cada vez mais em sua irmã, seguindo os seus mesmo passos. O passado e o presente também se confundem.

A montagem fluída do documentário, a presença da água atrai o telespectador para um universo paralelo em que mãe e filha se dissolvem em água: a fluidez da dor e os sentimentos de perda e morte em que elas se afundam.

Na minha conclusão de alguém que está começando a cursar comunicação social, digo que este documentário é carregado de poesia: aquela poesia de amor e luz que explode no coração de quem conhece a morte, de quem já perdeu alguém. A poesia daqueles que ficam.

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