Elena: sobre amor e sofrimento

por: Greta Paz – site Eu sou Famecos – 19/7/2013

Pode-se dizer que Elena não é um filme para todos. É devagar, melancólico e sem o intuito de agradar ou prender o grande público, características tradicionais de produções do cinema comercial. Quem gosta de ação e “moral da história” não precisa nem sair de casa. Entretanto, este é um filme para quem quer mergulhar em sentimentos. Elena é um sincero desabafo sobre a saudade de um dos amores mais puros: o de irmãos.

O filme trata da história de uma jovem que, frustrada com a carreira de atriz e em depressão profunda, decide se matar. Mostra desde a infância de Elena, a sua motivação para o suicídio e a situação e tristeza da família depois do ocorrido.

De acordo com o sócio-diretor de cinema da Avante Filmes Filipe Matzembacher, “o suicídio é recorrente no cinema por tratar-se de algo tão dramático”. Para o diretor, em uma escala comercial, o tema é tomado com maior cuidado para não afastar-se do consumidor. Isto não acontece no caso de Elena. Como não visa agradar um grande público, o filme é transparente na abordagem.

“Elena tem seu ritmo, seu tema, suas conversas e seus discursos e Petra Costa, a diretora, escolheu-os por instinto e não por preocupação comercial”, reconhece Matzembacher. Para o diretor, este é um dos fatores mais importantes para o sucesso artístico da obra.

O que muitas vezes confunde o público antes de ir ao cinema é o fato do filme ser um documentário. A construção é feita através de depoimentos da mãe e da irmã anos depois da morte de Elena. Em paralelo, há uma costura das falas com um arquivo pessoal de imagens antigas produzidas com uma câmera caseira da família.

Petra Costa é a diretora e traz os depoimentos mais importantes do longa-metragem: o de irmã. Ela aplica no filme, de forma poética, uma história pessoal. Ou seja, a obra pode ser intitulada como “filme-diário”, pois o cineasta transcorre na tela o seu fluxo de pensamento através de imagens, depoimentos sonoros e memórias.

Quem deixa as salas de cinema depois de assistir ao filme, sai mudo. O filme aborda a questão da perda de forma transparente, da dor de maneira sincera e do suicídio sem tabus. Este último, apesar de ser pouco abordado por coberturas tradicionais da mídia, é o maior motivo de mortes por violência segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). De acordo com a instituição, o suicídio mata mais do que acidentes de trânsito e conflitos armados. A OMS garante que esta razão para mortes aumentou 60%, nos últimos 45 anos.

Elena tem feito um uso social da arte e escancarado de forma poética o suicídio para o mundo. No ano passado, 2012, o filme foi exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, na Semana dos Realizadores (Rio de Janeiro), no Festival Internacional de Documentários de Amsterdã (IDFA) e no Festival de Brasília do Cinema Nacional. Nos eventos, conquistou prêmios de direção, montagem, direção de arte e melhor filme pelo júri popular, sempre na categoria documentário. Um filme que, mesmo tímido, conquistou o país.

 

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