Atmosfera de poesia

Por Alex Gonçalves – Cine Resenhas – 27/8/13

Realizadora do premiado curta-metragem “Olhos de Ressaca”, Petra Costa toma um salto mais ambicioso com “Elena”, documentário com algumas intervenções de ficção e seu segundo trabalho atrás das câmeras. Porém, a produção não se apresenta somente como um desafio para a jovem, mas também como uma forma de exorcizar os demônios que preencheram o vazio que a atingiu com a perda de uma pessoa querida. Se Elena não é um nome que lhe permite associações com uma mulher renomada é porque esta não conseguiu atingir o cobiçado status.

A história de “Elena” é construída através de trechos de vídeos caseiros e filmagens de alguns trabalhos artísticos de Elena Andrade. Graciosa e desinibida, Elena mostrou desde cedo grande aptidão para a arte dramática. Ainda na adolescência, participou de grupos teatrais em que provou possuir um talento singular para a linguagem corporal, do qual chegou a ser reconhecida em matérias de veículos impressos. Mas Elena não desejava seguir este caminho por muito tempo, pois seu grande sonho era ser uma atriz de cinema. Não encontrou muito campo no Brasil, um país cujo forte é a telenovela, e assim concretizou os planos de estudar interpretação nos Estados Unidos.

Elena passava horas de seu dia agendando testes, participando de entrevistas e criando contatos. Sem sucesso. Tomada por uma decepção que lhe tirava toda sua vitalidade, Elena reencontra sua família no Brasil e o brilho de seu sonho vai se apagando gradativamente. Sua mãe e Petra, sua irmã, nada conseguiram fazer para reanimá-la e a espontaneidade em frente de uma câmera também desapareceu.

Ao fazer um tributo para Elena, Petra Costa, de certa forma, consegue transformá-la na artista que ela sempre desejou se tornar. Também ocupando a função de narradora da história, Petra estabelece a exposição de um relacionamento muito íntimo entre essas irmãs, tornando-o especial para o espectador. A princípio incômodas pelo excesso de desfoque, muitas cenas atingem uma atmosfera de poesia, a exemplo daquelas em que Petra caminha solitária por lugares como alguém atingida pelas desilusões de uma carreira difícil e que atinge o nosso emocional de modo implacável.

Por outro lado, esse retrato extremamente pessoal de Elena compromete a linguagem documental adotada, justamente aquela em que se exige uma visão mais ampla de tudo antes de ser estruturada. Mesmo que extremamente duro, não havia a necessidade de Petra permitir a sua abalada mãe a mostrar o modo como viu Elena pela última vez. São instantes assim que não permitem que “Elena” alce voos mais altos e se restrinja a um acontecimento levado aos cinemas contemplado com mais intensidade somente pelos familiares e amigos de Elena Andrade.

Elena, 2012 | Dirigido por Petra Costa | Roteiro de Carolina Ziskind e Petra Costa | Elenco: Petra Costa, Elena Andrade e Li Na | Distribuidora: Espaço Filmes

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