A essência do ato de documentar

Por Wellington JúniorCinema News – 29/12/2013

A imagem, segundos muitos teóricos, é a impressão da memória. É o fator das lembranças, do passado, do que não volta mais. E esse passado acaba que se tornando eterno, onde a eternidade pode ser visto como algo bom ou ruim.

Percebe-se que algumas tribos sentem medo da imagem. Para elas é algo que prende a alma, que mata – algumas acreditam que close no rosto (também serve para outras partes do corpo) é uma decapitação.

Esse pensamento ao redor da imagem pode até ser cômico, mas acaba que se tornando verdadeiro. Nunca mais veremos James Dean a caminhar na rua em uma manhã, mas ele acabou que sendo eternizado através de seus (poucos) filmes e centenas de fotos. Sua persona foi imortalizada, sua lembrança preservada.

Essa preservação da memória é um fator delicado, mas totalmente preciso se fomos analisar dois documentários brasileiro que trabalham muito bem com essa teoria da eternização pela imagem.

O primeiro é Person. Documentário sobre o lendário diretor onde sua filha, Marina Person, traça um mosaico do pai – que ela perdeu quando ainda era criança – em cima de seus poucos filmes realizados e das lembranças alheias. O que vemos aqui é uma necessidade de não perder o pouco que ela possui na sua mente sobre ele. Recorre as pessoas que conviveram com ele e acaba tomando posse das memórias alheias para criar um único registro e eterniza-lo.

Já em Elena podemos ter o amadurecimento da ideia que Person inicia. Aqui vemos Petra seguindo os passos da sua irmã – que dá o nome ao título – tentando preservar o pouco que restou dela na sua memória e também para tentar compreender o fim que ela levou.

Diferente de Marina, aqui, em Elena, a diretora tem pouco sobre sua irmã na sua mente. A necessidade de encontrar algo concreto para se eternizar se torna algo intenso e acaba virando uma obsessão. Petra acaba se perdendo nas lembranças que tem de Elena e nós, telespectadores, perdemos a percepção de distinguir a personalidade de cada uma.

Elena, assim como Person, são documentários de preservação. Mas essa preservação é da memória, para que ela não caia no esquecimento. É a compreensão que o esquecimento é um lugar triste, vazio, um lugar onde não queremos que quem amamos vá parar lá, que isso pareça inevitável.

Os dois documentários mostram a essência do ato de documentar. A necessidade de capturar. A necessidade de eternizar.

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