“Uma história de fantasmas”

Por Denilson Lopes – Trecho extraído do texto “De Volta à Orgia”

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“Elena” uma estória de fantasmas. Fantasma é Elena, a irmã que morreu, mas também Petra, a irmã que sobrevive e vai para Nova Iorque no rastro de sua lembrança. Fantasmática Nova Iorque feita de pessoas desconhecidas, estrangeiras, aparições fugazes onde Elena não se encontra e onde Petra corre o risco de se perder.

Nova Iorque é Elena . “Elena” (o filme) é uma estória de busca de memórias por parte de uma Jovem mulher que se constrói e de uma diretora se faz artista à sombra da irmã que não conseguiu ser atriz, que escuta a mãe contar a estória do suicídio de Elena e se coloca na mesma cama em que a filha mais velha se matou, na mesma  posição em que a encontrou morta. Mãe e filha reencenam mesmo a perda de Elena não para apagá-la mas para redimensioná-la.

“Elena” é uma estória delicada de amor entre duas irmãs, da mãe que quase se mata após ver a filha morrendo, uma estória de uma linhagem feminina que desconstrói o mito da Ofélia. Não se trata de afirmar o cliché da mulher que se desespera pelo amor nem pela ausência do amor. Aqui não há Hamlet. Há muitas Ofélias, algumas possivelmente morreram, mas outras, muitas renascem a partir das águas escuras de melancolia. Nada aqui é solar.

É uma estória séria de atmosferas sutis, quase sem lágrimas (ao menos na tela) nem gritos. Não há ironia. Mesmo a alegria que surge não como redenção mas, como definia Nietzsche, por enfrentar a vida com toda sua dor. Alegria discreta, sem sorriso final, sem exuberância. Há morte e dificuldade de perder. Mas há aposta na vida com todas suas precariedades.

Se “Elena” refaz o passado, através de uma linhagem feminina, ainda pouco explorada na cinematografia brasileira, esta busca se dá ainda dentro da casa e da família.

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