Um filme imperdível, triste, sem dúvida, mas autêntico

por: Hsu Chien HsinDiário de um cinéfilo – 6/6/2013

“Elena”, de Petra Costa (2012) – Seria incorreto classificar esse belo filme da atriz mineira Petra Costa como simplesmente um documentário. Mais do que um filme de gênero, ele é um ensaio poético e visionário sobre um tema tabu: a depressão. Através da história de 3 mulheres de uma mesma família ( Mãe e suas 2 filhas), o filme procura descobrir o porquê que uma pessoa linda, inteligente, bem-nascida e tão cheia de projetos futuros, se aprofunda num estado catártico, solitário e melancólico da depressão.

O filme narra a história de Elena, uma jovem filha de um casal mineiro ( a mãe é filha de família tradicional e abastada) que aderem ao movimento de guerrilha na ditadura. Por causa da gravidez, a mãe de Elena não pode seguir para o Araguaia. Desde então, Elena é considerada a salvadora de seus pais, já que boa parte dos colegas foram mortos no conflito. Petra nasce, e Elena demonstra muito carinho por ela. Elena um dia resolve que quer ser atriz. Após carreira em São Paulo, dentro de um grupo de teatro, ela resolve seguir até Nova York estudar. Obcecada pela perfeição artística, Elena se cobra nos estudos. Ela faz vários testes, sem passar em nenhum. Solitária, sua mãe e Petra acabam indo para NY morar com ela. Porém, Elena vai entrando em estado de profunda depressão, culminando em suicídio.

O grande trunfo dessa história é mostrar as coincidências das 3 mulheres: todas elas com sonho de ser atriz, todas elas com indícios de depressão, todas com um sonho que de certa forma foi interrompido por algum evento que as fazem mudar de rumo ( no caso da mãe, foi o casamento, que acabou com o seu sonho de ser atriz). Petra, a remanescente, é constantemente vigiada por sua mãe, que teme que ela siga o mesmo caminho de Elena. A grande inteligência de Petra em transpôr a sua alma para o filme, foi concebê-lo como uma trajetória de exorcismo, expondo o seu coração para a platéia, através de uma trilha sonora bárbara, fotografia deslumbrante ( mesmo quando as imagens são em VHS, aviva-se uma beleza nas imagens). A coragem da mãe em expôr seus sentimentos e dor para o filme merecem respeito: foi a forma que ela encontrou para dizer a suas filhas que ela as ama profundamente.

Pode-se dizer que Petra teve uma grande sorte em possuir um enorme acervo de imagens, sejam elas em VHS, fotos, etc, que ajudam bastante o espectador a embarcar nessa história emocional. Tem momentos que eu pensei: caraca, mas como alguém teve a ideia de ligar a câmera nesse momento??? Um filme imperdível, triste, sem duvida, mas autêntico.

Nota: 8

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