Sintaxe de suspense em acúmulos de fascínio

por: L. – blog Pedalinhos – 17/7/2013

O gasto de tensões e a iconicidade de um bairro triunfada em camadas incidentais prenunciam um percurso ficcional arrematado por uma sintaxe de suspense, um suspense espacializado e temporalizado nas imposturas, nos segredos, nos acúmulos de fascínios, em um regime narrativo onde o apelo orbita nas figurações do outro – animal, imigrantes, enfermo, criatura…

Persiste em A tristeza extraordinária do leopardo-das-neves (2013) um anti-idealismo, contrapostas, ficcionalidade e alteridade não funcionam aqui a partir do jogo presumível das identidades e suas derivações. A dimensão violenta das insônias, dos delitos, das transgressões, do especismo está condensada em movimentos concisos da linguagem, assegurada nas deambulações do escrivão, narrador-personagem, na assimilação do casarão, repositório de toda a sorte das lendas urbanas, nas remissões incansáveis ao outro abjeto, deste outro-bicho lançado em um zoológico de motivos noturnos, o zoo Nocturama.

Entre a miríade de narrativas brasileiras contemporâneas que reputa corpos enfermos e suas relações fraternais de afeto: Elena (2012), de Petra Costa, A vendedora de fósforos (2011), de Adriana Lunardi, e, os Malaquias (2010), de Andrea del Fuelgo, o romance de Joca Reiners Terron faz minar, em um jogo de afecções e rastros, a atração incontornável da morte desde a literatura. Para efeito de uma fortuna crítica, retomo as pinturas, híbridos de pôneis, cavalos, quiçá leopardos, da ilustradora polonesa Aleksandra Waliszewska, que ao diante das reminiscências fabulosas do texto literário viabilizam uma experiência em bestiário dessas intrusões, dessas histórias de um Bom Retiro em hospitalidade esgarçada, quase consumida pelo terror.

 

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