Em busca do próprio corpo

Eliane Brum - blog da revista Época - 6/5/2013

Mortalha Reflorida

Ricardo Daehn- Correio Braziliense – 17/5/2013

Vamos flutuar

Jordan M. Smith - IonCinema – 1/5/2013

Elena e o inverno da memória

Por Fernanda Rezende, em Inverno Cultural – 20/07/2015

Divulgação-elena

O 28º Inverno Cultural UFSJ exibirá, nos dias 20, 21, 22 e 23 de julho, o documentário Elena, de Petra Costa, produzido pela Busca Vida Filmes. O longa foi premiado em diversos festivais nacionais e internacionais, incluindo o de Guadalajara e o de Brasília, e chega a São João del-Rei em sessão permanente, de segunda à quinta, sempre às 18h, no auditório da Biblioteca do Campus Santo Antônio.

A história é baseada na autobiografia da atriz Elena Andrade, irmã mais velha de Petra, que se mudou para Nova York em busca da realização do sonho de se tornar atriz de cinema. Para a diretora, o filme nasceu de sua vontade de assimilar a ausência de Elena e, assim, sobreviver ao esquecimento, ou ao inverno da memória. Petra aprende a dançar com a irmã, num mergulho nas lembranças antes compartilhadas. “Passei meses escrevendo e reavivando tudo o que me trouxesse Elena de volta. Por meio de imagens e sons, percorri um túnel do tempo privilegiado”, conta Petra.

O estudante do curso de Comunicação Social da UFSJ, Marlon de Paula, que já assistiu ao filme, elogiou a maneira sensível com que diretora montou o longa: “Petra consegue fundir as imagens do passado e as filmagens caseiras da irmã com o tempo presente, o que faz aflorar percepções pessoais diante da obra.” Para Marlon, as sessões de Elena serão oportunidade para ver bom cinema. “O roteiro, a qualidade técnica e narrativa são surpreendentes”, analisa.

Amor e Perda

Deixando para trás uma infância marcada pela ditadura militar e uma adolescência entre peças de teatro e filmes caseiros, Elena viaja para Nova York em busca do mesmo sonho de sua mãe: ser atriz de cinema.

Vinte anos após a saída da irmã, Petra se torna atriz e cineasta, e parte à procura de Elena. Decidida a filmar sua ausência, Petra encontra traços da irmã em lembranças dispersas que viveram juntas, depoimentos registrados em fitas cassete e imagens capturadas por uma câmera amadora.

Além de roteirizar e dirigir o filme, Petra também entra em cena como personagem, catalisando a dor e a superação familiar pela ausência de Elena, tendo como pano de fundo um país que também se perdia na violência da ditadura militar. O cineasta norte-americano Tim Robbins disse do filme: “Elena é uma linda obra de arte. Um filme sofisticado, poético, visualmente estonteante e visceralmente tocante.”

Questionada sobre a exposição de drama tão pessoal, Petra Costa afirmou que todo artista se expõe muito em sua obra, seja ela biográfica ou não. No seu caso, simplesmente precisava realizar esse filme. “Eu gostaria muito de poder mostrar para os jovens essa transição para a vida adulta, que às vezes é dolorosa. E gostaria que mulheres, filhas, mães, irmãs, atores, psicólogos, o máximo possível de pessoas o vissem”, destaca.

“It hurts my feelings” – Três gerações de mulheres assistem ao documentário Elena

Por Fernanda Rezende e Cibele Moraes, em Inverno Cultural – 29/07/2015

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Petra, essa noite eu sonhei com você.  Sonhei que te encontrava pelas ruas de São João del-Rei. Desde que me deparei com sua história, narrada naquele filme tão íntimo sobre o qual tive que escrever, o turbilhão da memória tem me sufocado de uma maneira indescritível, confesso. Dentro de mim, sensações em cascata, nítidas e embaçadas, perturbam o pensamento, antes firme seguidor da luz dos faróis. Mulher, estudante de jornalismo navegando entre grandes mestres, tinha a meu lado duas outras, cujos destinos latentes sentavam-se na mesma fileira em que víamos as imagens de sua busca pelo que não se podia nominar, mas que se insinuava na palavra “medo”. Eu era você, a que devia narrar; na ponta, era ela a mater dolorosa em quem reverberavam as palavras de sua mãe; entre nós, a que podia ser Elena, porque a primogênita, que colheu em face de lágrimas sua frase-ausência: “It hurts my feelings”. Éramos três mulheres, de diferentes gerações, embebidas nos aquíferos das cenas projetadas em tela.

Ganhei um bloco, vazio, esperando para ser devorado por ideias. Eu tinha que escrever sobre Elena Costa, que cresceu na clandestinidade, que dançava, que era atriz, a irmã de Petra que quis Nova York. Como preencher com palavras a folha em branco para retratar uma vida assim tão potência e tragédia? Fazendo uma crônica de mim, que honrasse a tradição de Gabriel García Márquez, Cecília Meireles, Machado de Assis e Sarah Rodrigues. Que fosse um filme, em papel. Que fosse o melhor registro de minhas memórias.

“Se a vida é tão simples, do que eu tenho medo?” De não ser mais poeta. Necessito ser. Fecho os olhos, mergulho nas águas das palavras, no limo das angústias, no arroio das imagens. Submerjo. Volto à tona. Solto meu corpo no espaço e danço a Valsa para a lua. Me liberto, já não quero parar. Vertigem. Colho no remanso palavras ainda desordenadas, me aproximo de suas águas, pronta para me afogar no excesso de sua intensidade, Elena, e na correnteza de seu pasmo, Petra. “Pouco a pouco as dores viram água, viram memória”, aprendo. Suave é fio d’água que canaliza a delicadeza de tantas lembranças até mim.

É fresco, a memória atávica da gestação, mas é parto: pulsação, nascimento, armadilha, arte, angústia, ribalta, melancolia, morte, cacos. Ressureição em película: Elena torna-se atriz de cinema. A travessia, nosso viver.

Saudações, Elena!

Encenar Elena

Por Andréa França e Patricia Furtado Machado – 27/1/2015
Print 2015-01-26 às 17.31.17É na possibilidade de reencenar a morte trágica da irmã, de se aproximar e reviver a dor que Petra encontra a força transformadora e disruptiva do cinema. Para além de um sentido mimético do termo representar, encenar seria abrir a possibilidade de fazer aparecer algo novo. Para a historiadora e pesquisadora de cinema Sylvie Rollet, é na reencenação de gestos do passado que nasce a imagem-testemunho capaz de fazer testemunhar não só aquele que estava presente no momento do acontecimento, mas também o espectador imerso”

Trecho do trabalho acadêmico “A imagem-excesso, a imagem-fóssil, a imagem-dissenso: três propostas cinematográficas para a experiência da ditadura no Brasil”, das pesquisadoras Andréa França (PUC-Rio) e Patricia Furtado Machado (UFRJ).

Para acessar o estudo completo, acesse: http://www.estudosdalinguagem.org/ojs/index.php/estudosdalinguagem/article/view/135/375

Elena: Esquecimento e Memória na Realização Artística

Por Wuldson Marcelo – Blog Sociedade Poetas Amigos – 5/1/2015

imprensa_Elena_retrato1_1988O documentário ELENA (2012), de Petra Costa, é um memorial visual, ou, ainda, um mergulho nos insondáveis recônditos da mente e emoções humanas. Petra, por intermédio da obra fílmica, esquadrinha os sonhos e as frustrações de sua irmã Elena, e, ao mesmo tempo, revela as nuances de seu relacionamento com a jovem que desejava ser atriz, mas que em sua viagem para Nova York, no início dos anos 90, com o intuito de realizar esse objetivo, depara-se com estranhamentos, medos e a depressão, que a levam a cometer suicídio.

Reunindo gravações caseiras, fotos e o testemunho da mãe (que partiria para a guerrilha do Araguaia, durante as sublevações contra o regime militar, caso não estivesse grávida de Elena), Petra costura uma memória que, pela narração da própria cineasta, procura ser a reconciliação com o passado, a compreensão do presente e um olhar para o futuro. Desse modo, Elena, a irmã, é a instigadora da busca de Petra por si mesma. Se a memória é um desejo de reconhecer, como fala-nos Nietzsche, em “Sobre a verdade e a mentira no sentido extra-moral”, Petra, ao propor seguir os vestígios deixados por Elena, constrói uma elegia que sanciona as lembranças como marcas inextinguíveis daquilo que somos.

E ao não esquecer Elena é que Petra pode reconstituir o seu passado, trazendo de volta momentos, paisagens e sombras. Nietzsche postula que a dosagem entre esquecimento e memória é o cerne da criação artística. Assim, o que Petra realiza é a documentação poética de uma interrogação: o que há de Elena em mim, que não me permite esquecê-la? (Lembrando que esquecer assume um sentido de figurar e não de abandono da rememoração). Sendo a memória uma ferramenta do conhecimento para superar perdas, temores, dúvidas, “Elena” é a confirmação artística de Petra, e a sua mais pessoal recordação. Esse jogo entre memória e esquecimento encontra na poesia, e na atuação e na dança, seu ponto de irradiação, que permite fazer o itinerário da dor e da saudade que a mise-en-scène elaborada por Petra Costa executa.

Se Elena, a jovem aspirante à atriz, quer seguir os sonhos que a mãe não realizou, Petra, que tinha sete anos quando a irmã suicidou-se e guarda assombrosa semelhança física com a mana, consolida o desejo de gerações de mulheres de sua família. E esse é um dos aspectos mais delicado do documentário e o que confere sua notável qualidade: a de tornar a memória um processo de reinvenção artística. E a constituição formal da documentarista traça linhas tênues entre a objetividade contida em um fato que gera desdobramentos, que fomentam um inquérito e/ou pesquisa, e a subjetividade própria dos desnudamentos interiores (ainda mais em um caso em que a cineasta se torna personagem, que, constantemente, confunde-se com o objeto documentado), que expõe de modo aberto dores em processo de cicatrização.

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E é essa condição de dupla experiência, documental e íntima, que atribui a “Elena” autenticidade e o separa de tantos outros filmes-investigação sobre dramas familiares. Petra, como atriz, performa em um documentário sobre os motivos que levam uma jovem e promissora estudante de artes cênicas a cometer suicídio, e nessa rota, à procura de respostas, interroga-se se seus passos não são idênticos ao de Elena, e, assim, os seus destinos.

O retrato poético no qual se transformou o documentário de Petra tem em sua mãe um ponto chave, pois aceitação, responsabilidade e a persistente dúvida, “se eu tivesse percebido”, acompanham cada depoimento, está na busca em Nova York da antiga residência de Elena e no dia fatídico de seu suicídio. É a dor entranhada em uma mulher – suportável no limite do silêncio que contém uma tristeza em demasia – exposta com coragem e explorada em nome de uma espécie de expurgação artística.

A Petra narradora, a certa altura, diz sobre o percurso de uma vida que conflitua incessantemente memória e esquecimento, “E pouco a pouco as dores viram água. Viram memórias. As memórias vão com o tempo, se desfazem. Mas algumas memórias não encontram consolo, só algum alívio nas pequenas brechas da poesia. Você é a minha memória inconsolável, feita de pedra e sombras. E é dela que tudo nasce e dança”. O documentário construído por fragmentos, depoimentos, imersão em dores e afetos, na busca pelas desilusões de Elena e consagração da relação entre a cineasta e a irmã, tem nas imagens, em sua elaboração, a exposição de um arquivo de memórias que surge, foge, reaparece e potencializa essas lembranças em variações de foco que favorecem o tom poético da produção.

De uma protagonista ausente à uma documentarista/narradora/irmã, “Elena” não é uma obra fílmica que necessita de antemão das referências de seus observadores, armadilhas para a obra artística e para a fruição que a arte pode proporcionar, a saber, a identificação e/ou projeção. “Elena” é o relato poético, e em muitos momentos sentimental, da jornada do sonho à frustração de uma talentosa aspirante à atriz e a busca pelo porquê de seu desfecho trágico pela irmã. Porém, é, na mesma medida, o enfrentamento do jogo que torna a vida um processo de dor e superação recorrente, a de equilibrar esquecimento e memória, e pela via que, invariavelmente, flerta com a eternidade, a da arte. E é essa arte que proporciona a Elena a realização de seu sonho: a de fazer cinema. Petra Costa ao confeccionar como documentário seu mais doce fantasma, engendra a esse espectro um corpo e ao filme sua alma indelével.

Eu poderia ter sido Elena

Por Dayane – Blog Etérea Essência– 17/12/2014

elena 7Meu namorado diz que gosto de filmes tristes. Prefiro chama-los de Dramas, mas de fato, são tristes, assim como muitas vezes vejo o mundo.

Um filme (documentário) que demorei muito a assistir por não saber sobre o que se tratava exatamente, foi Elena, de Petra Costa, onde ela narra a história de sua irmã, Elena,  atriz, que aos 20 anos decide morrer e como esse acontecimento até hoje impactou a forma de Petra enxergar a vida.

Há uma parte no filme que mexeu muito comigo, onde Petra relata que entra no quarto de Elena com uma amiguinha, ambas com 7 anos (Elena com 20) e a encontram totalmente coberta, apenas com os olhos de fora e estes, vermelhos de tanto choro. Saindo do quarto, a amiguinha de Petra pergunta o que tem Elena, e ela responde “Ela é assim”. Por mais da metade da minha vida, eu achei que eu fosse assim.Tinha aceitado a tristeza , a melancolia, a vida em preto e branco como uma parte da minha alma, do meu destino. Conforme fui tomando consciência de que isso precisava mudar, essa certeza de ser uma pessoa triste tornava-se aterradora, insuportável e eu não via saída, a não ser a morte.

O filme me angustiou muito. Me fez rememorar sensações que já passei ao longo da minha vida e muitas vezes, em menor frequência, ainda passo.  Creio que as doenças da mente são mil vezes piores que a do corpo. Se você está com uma dor no corpo, mas com a mente sadia, você suporta, dá a volta por cima, se refaz. Quando é a sua mente quem está doente, tudo pode parecer perfeito, mas nada importa, tudo parece perdido. Lembrei das várias vezes em que minha vida não tinha sentido algum, das vezes que senti uma dor excruciante que nunca soube de onde vinha e como meu único socorro e consolo era a religião, ao qual eu me agarrava com todas as minhas forças e que , agradeço muito a Deus por tê-la colocado em meu caminhos nesses momentos difíceis, pois foi o medo de perder a vida eterna, os céus, a salvação  e o que diziam naquele lugar , que me mantiveram viva durante muito tempo, durante anos em que nada pra mim fazia sentido, em que , como eu sempre dizia : Viver,era um fardo, uma obrigação.

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Mas eu saí disso, nem eu mesma consigo acreditar, mas saí. Saí com terapia, com medicação, com amparo da família, que passou a me entender e me apoiar, reconhecendo meus medos, traumas, experimentando viver, me arriscar e aprendendo que nada é para sempre, nada é eterno. A vida é feita de fases e isso tudo que passei foi só uma fase.

Queria que Elena tivesse tempo de ter notado que tudo isso era uma fase, que todas essas coisas iriam passar. Aos 20 anos eu também queria morrer. Aos 25 , quero amar, casar, trabalhar, ter filhos, dar continuidade aos meus projetos . Viver muito, e muito bem!

Agradeço a Petra por ter feito esse filme, por sua sensibilidade e sua coragem em se expor, coisa que faço nesse blog diariamente, mas não com tanta delicadeza e beleza que ela fez. Relatar nossa história nos alivia da dor e ajuda a quem está passando por ela a sentir-se confortado, acolhido, a notar que não está sozinho, que é o que muitas vezes tento fazer aqui.

Um filme feminino, intenso, forte. Um filme, que gostaria eu, ter sido feito por mim. Uma história, que agradeço, não vivi.

Ela não volta mais!

Por Solange Camila – estudante –  10/12/2014

O poema abaixo foi escrito por Solange Camila, aluna do Ensino Médio da Escola Estadual Waldemir Barros da Silva, em Mato Grosso do Sul. Por iniciativa da professora de literatura Aline Calixto, os estudantes assistiram ao filme ELENA e, depois, participaram de uma oficina de poesia, em um projeto de sensibilização artística.

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Ela não volta mais!

Desde que nasci
não gêmeas, mais idênticas
a alma interligada
e você? Toda arte me ensinava

Suavemente, me aconchegava
Sentir seu cheiro me libertava.
Ouvir tua voz, prendendo-me…
Apenas sentir tuas palavras

Um sonho de infância,
risos, e mais risos
junto a uma desajeitada dança

A ida, distanciamento
como fazer para suportar tal tormento
uma espera, fria,
vazia de sentimentos

A volta, e o retorno
mas ao seu lado estava
ao ver indominável choro
a depressão lhe tomava.

Obsessiva busca da perfeição.
com a simplicidade do brilho
surge o som da decepção
o medo e a falta de amor
tomou-me seu coração!

Doença do corpo
Solidão e medo da alma
Ela é assim! Assim…
Falta da felicidade
falta de amor por mim.

Sente-se escura
algo que nunca terminará.
E sem a arte predestinada
O show da vida veio a cancelar

Isso me machuca muito
ela não irá mais voltar.
E minh’alma transbordada
Faz renascer em mim seus olhos profundos
que nunca dizem nada

Horas, dias, meses e anos.
Ela é assim! Assim…
Voltastes… Tomando forma e corpo
mas vens com calma
e morres de novo

Suas lembranças.
Prazer junto a dor
me afogo nas águas tremendas
que me tocam com o mesmo amor que o teu.
Assim, enceno a morte para poder viver
o sonho que não viveu.

ELENA: Seu reflexo

Por Jamile – Blog A vida entre linhas – 6/12/2014

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Éramos três.

Éramos mais.

Éramos todas, mas éramos tortas.

Éramos, sem mais nem menos.

Por isso, quando me batem à porta perguntando se atravessamos eras, conto da janela, de como ela não tem trancas e é desnuda de formalidades. Também conto do pão de queijo e do café preto. Aproveito, puxo uma cadeira, pego o jornal e conto dos escândalos do metrô e da Petrobrás, dos filmes em cartaz… mas você já não pode ouvir… não conseguiu ver nada disso e, embora as fantasias façam crer que você e o seu misto de esplendor e simplicidade pudessem prever isso tudo, ou quem sabe criar coisa muito melhor, não existe agora. Não tem instante. Isso dói.

Mas éramos três. Não a deixaríamos na estante: eis o veredicto.

O asfalto queimava os pés que dançavam, as luzes ardiam os olhos, que então fechavam, mas as mãos continuavam tateando, procuravam o contorno do seu rosto. Os lábios ainda queriam o seu gosto, o suor das bochechas de dias cansados e os diálogos…

Não sou pedra.

E o coração? Pesava 300 gramas e carregou o mundo inteiro. Me pôs nos ombros, me deu carinho… depois me pediu pra descer e ir brincar. Disse que depois me veria em vários outros sonhos.

Acontece que éramos três e havia a promessa de nunca mais olhar no espelho. Assim, os contornos e traços antigos foram retorcidos, distorcidos e remoldados. Nos deram rugas e olhos fundos “como os de passarinho”, alguém mais tarde diria, e nós nos encarregamos de nos afogar. Em cachaça e águas límpidas. Em palcos, arenas, livros e poesia.

Os pés, ainda assim, dançavam.

Te amo, Elena. Sinto saudade todo dia.

Com amor, como sempre…

Relações de amor

Por ArtRef – 25/11/2014

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Pensei em começar o título desta indicação com “Documentário brasileiro sobre a vida de uma artista suicida”. O título seria básico mas mesmo assim atrairia os olhares de muitas pessoa, afinal a morte é algo que nos chama atenção. Porém, concluí que estaria mentindo. Elena não é só um documentário sobre uma suicida, longe disso. Elena é realmente uma poesia junto a um relato da vida de uma artista. Não de uma, mas de duas. Elena e sua irmã, Petra Costa (diretora do filme).

Para além das relações de vida e morte, o documentário nos traz as relações de amor, de família e de saudade. Pessoalmente houve uma grande identificação; talvez pelo fato de eu ser artista ou talvez pelo fato de eu ser depressivo, isso pouco importa. O que importa realmente é a beleza com que Petra revive a dolorosa história de sua irmã Elena, uma jovem artista que trabalhou com dança e teatro e foi para NY estudar artes cênicas.

Dentro do processo de mudança para uma cidade como Nova York, a irmã da diretora viveu o sonho e a desilusão. Quando chega na cidade tudo parece ser maravilhoso e excitante, porém, com o tempo, vai percebendo uma carência muito mais profunda dentro deste modo de vida frenético.

Essa carência começa a afetar de forma aguda seus sentimentos e dá luz a um comportamento depressivo que acaba por levar a vida de Elena para um fim trágico e infeliz. Elena se matou. Sua irmã Petra, mais nova, apesar de ser ainda uma criança, já havia construído fortes laços afetivos com Elena e, sua morte, trouxe um grande rompimento sentimental o qual é revisitado neste filme.

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Fugindo de um simples documentário biográfico, a diretora expõe de forma sensível assuntos tão delicados (como a depressão, o suicídio e o relacionamento familiar) e concretiza as subjetividades que nunca imaginei poder enxergar. Dei de cara com a tristeza, cumprimentei a solidão e, na mesma sala de cinema, abracei o amor.

Nada do que escrevi acima pode ter sido dito com ampla certeza. O filme é baseado em relações muito pessoais (das irmãs, da mãe, dos conhecidos). Tudo foi pura construção de significados subjetivos meus, o que claramente não pode estar 100% alinhado com as intenções ou sentimentos da autora, porém, a atmosfera, apesar de ser delicada, é muito palpável.

Elena já ganhou diversos prêmios (como de Melhor Documentário pelo júri popular do Festival de Brasília e pelo Festival de Havana) e integra a pré lista do oscar. Para mais informações, acesso a conteúdos de mídia e textos/notícias sobre o filme, acesse o site elenafilme.com

ELENA

Por Lucas Pompeu –  Art Ref – 25/11/2014

elenarioPensei em começar o título desta indicação com “Documentário brasileiro sobre a vida de uma artista suicida”. O título seria básico mas mesmo assim atrairia os olhares de muitas pessoa, afinal a morte é algo que nos chama atenção. Porém, concluí que estaria mentindo. Elena não é só um documentário sobre uma suicida, longe disso. Elena é realmente uma poesia junto a um relato da vida de uma artista. Não de uma, mas de duas. Elena e sua irmã, Petra Costa (diretora do filme).

Para além das relações de vida e morte, o documentário nos traz as relações de amor, de família e de saudade. Pessoalmente houve uma grande identificação; talvez pelo fato de eu ser artista ou talvez pelo fato de eu ser depressivo, isso pouco importa. O que importa realmente é a beleza com que Petra revive a dolorosa história de sua irmã Elena, uma jovem artista que trabalhou com dança e teatro e foi para NY estudar artes cênicas.

Dentro do processo de mudança para uma cidade como Nova York, a irmã da diretora viveu o sonho e a desilusão. Quando chega na cidade tudo parece ser maravilhoso e excitante, porém, com o tempo, vai percebendo uma carência muito mais profunda dentro deste modo de vida frenético.

Essa carência começa a afetar de forma aguda seus sentimentos e dá luz a um comportamento depressivo que acaba por levar a vida de Elena para um fim trágico e infeliz. Elena se matou. Sua irmã Petra, mais nova, apesar de ser ainda uma criança, já havia construído fortes laços afetivos com Elena e, sua morte, trouxe um grande rompimento sentimental o qual é revisitado neste filme.

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Fugindo de um simples documentário biográfico, a diretora expõe de forma sensível assuntos tão delicados (como a depressão, o suicídio e o relacionamento familiar) e concretiza as subjetividades que nunca imaginei poder enxergar. Dei de cara com a tristeza, cumprimentei a solidão e, na mesma sala de cinema, abracei o amor.

Nada do que escrevi acima pode ter sido dito com ampla certeza. O filme é baseado em relações muito pessoais (das irmãs, da mãe, dos conhecidos). Tudo foi pura construção de significados subjetivos meus, o que claramente não pode estar 100% alinhado com as intenções ou sentimentos da autora, porém, a atmosfera, apesar de ser delicada, é muito palpável.

Elena já ganhou diversos prêmios (como de Melhor Documentário pelo júri popular do Festival de Brasília e pelo Festival de Havana) e integra a pré lista do oscar. Para mais informações, acesso a conteúdos de mídia e textos/notícias sobre o filme, acesse o site elenafilme.com

A busca pela arte

Por Ivan – Blog Cinema Vírgula – 23/11/2014

Misturando documentário, biografia e drama, Elena é triste, comovente, e excelente

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Com 1 ano e meio de atraso, enfim assisto Elena, filme nacional que chegou aos cinemas em maio de 2013, sendo bastante elogiado e premiado. Neste documentário, as primeiras cenas mostram Petra (a diretora do filme) indo a Nova York visitar os lugares que sua irmã mais velha Elena frequentava. É o início da biografia da personagem-título, que passa a nos ser apresentada através de cenas em VHS da família, filmadas nos anos 80. Com o passar do tempo, acabamos conhecendo a história de ambas: Petra e Elena de certa forma se misturam, ambas seguindo o mesmo caminho, da busca pela arte.

Narrado em primeira pessoa, na maior parte por Petra, Elena é uma colagem de imagens: sejam fotos, sejam as cenas antigas em VHS, ou as cenas de hoje: filmadas todas em plano bem fechado, geralmente desfocadas, nos deixando muito próximos de Petra, acompanhando sua melancolia e angústia.

Elena é consideravelmente curto, com 80 minutos de duração. Da mesma forma, minha crítica será curta. E diferente. Pois para não estragar as surpresas do filme, antecipo a conclusão do meu texto para depois, através de um breve “PS”, comentar sobre mais alguns poucos detalhes.

Sensível e triste – sensações reforçadas pela ótima montagem / trilha sonora – é impossível assistirElena sem sentir empatia pelas irmãs. Comovente, principalmente por ser uma história real, o filme – que na verdade deveria se chamar Elena e Petra – é tão envolvente e humano que se torna uma ótima pedida para quem também aprecia o cinema como arte. Nota: 8,0.

PS: (só leiam este texto APÓS assistir o filme: ele contém spoilers) É tocante ver o sentimento de dor e culpa de Petra e sua mãe, mesmo elas não sendo culpadas de nada. Quando o filme termina, temos vontade de abraçar Petra, consolando-a. Achei bem diferente um mesmo filme tratar dos sentimentos de “quem morre” e de “quem fica”. Desta maneira, ao mesmo tempo que a diretora é extremamente bem sucedida em fazer uma belíssima homenagem à irmã, que outrora desconhecida, agora tem sua arte chegando a todos, por outro lado, ao mostrar todo o sofrimento que Elena causou, fica no ar algo levemente contraditório. Mas convenhamos… existe algo mais contraditório que a vida? 🙂