Nos cinemas: “Elena”

por: Márcio Sallem – Em Cartaz na Mira – 25/6/2013

Elena (2012). Direção de Petra Costa. Roteiro de Petra Costa e Carolina Ziskind. Estrelando Petra Costa, Elena Andrade e Li An.

(Toda a discussão sobre Elena gira em torno de um evento capital que, para muitos, poderá ser visto como um SPOILER; prossiga por sua conta e risco). 

Há tanta angústia, pesar e esperança em Elena que é impossível não ser tocado por este documentário personalíssimo da diretora Petra Costa, com o qual ela realiza o milagre de encontrar a paz roubada desde os tenros 7 anos, enquanto concretiza o grande sonho da irmã: tornar-se uma atriz de cinema. Não importa que isto aconteça postumamente, afinal há uma parte de Elena, indestrutível, que sempre permanecerá viva em Petra e que é retratada de uma maneira melancolicamente honesta, pura e bela, em um desabafo que poderia ter nascido nas páginas de um diário mas que ganha os mesmos contornos visuais usados por Elena para comunicar-se com sua família.

Apaixonada, talentosa e perfeccionista, Elena trazia consigo as qualidades de uma grande atriz quando embarcou para Nova York e abandonou as então limitadas oportunidades cênicas existentes no Brasil: o pouco reconhecido teatro e as desestimulantes novelas. Restara-lhe um sonho, e nós nunca esperamos que estes nos decepcionem. Assim, a ainda perseverante e entusiasmada atitude de Elena, registrada em fitas VHS que Petra expõe corajosamente no documentário, é contaminada paulatinamente pela frustração; “falta amor por mim”, ela diz, em um dos indícios de que a depressão consumiu aquela jovem vibrante e que nutria um carinho tão especial por sua irmãzinha caçula.

Carinho que é retribuído por Petra nesta narrativa reverencial, mas não exageradamente, que enxerga em Elena o inevitável produto dos sonhos dilacerados por uma realidade dura e que nem sempre premia com justiça os mais dedicados. Através da angustiante fotografia e dos contornos desfocados da imagem, Petra confere respectivamente a claustrofobia (e ainda intimidade) e confusão esperadas do drama pessoal e familiar retratado, que nos prende igual faz um mar infinito com os corpos que por sobre ele boiam, quase inertes. A montagem também é um pequeno show, não somente na maneira natural com que entrecorta imagens de grãos e texturas diferentes, mas também ao sugerir nos raccords uma uniformidade de sentimentos compartilhada entre a Mãe, Petra e Elena.

Ou seja, um niilismo aparentemente genético encerrado na fria ficha de autópsia que atribui o peso de 300 gramas a um coração que suportara algo intoleravelmente maior. Ao mesmo tempo, uma comunhão inquebrantável entre mulheres que compartilhavam o mesmo amor pelo cinema, pois se Elena sempre dava um jeito de contracenar com Petra, então enfim, a recíproca fez-se verdadeira e o círculo de tragédias desfez-se inteiramente.

Elena

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