Mais Elena…

Thais TorresSubvertidas – 26/6/2013

(Nota: escrevi este post há algum tempo, mas não publiquei. Tanta coisa aconteceu neste meio tempo comigo e com o Brasil que é realmente impressionante como o filme ainda retrata uma identidade feminina tão significativa. Ser mulher ainda continua sendo muito complicado e eu não vi nenhum cartaz sobre tudo o que o filme retrata com tanto lirismo… )

Continuo pensando no filme Elena. Como disse Walter Salles, “O filme é de uma beleza incomum e fica entranhado em nós por um tempo”. Se aconteceu isso com o Walter Salles, imaginem comigo!? Não é de se surpreender que eu não consiga parar de pensar nas questões importantes que o filme suscita: família, suicídio, culpa, solidão, depressão, morte, elaboração do luto e arte. Não é pouco, mas há algo que para mim parece ainda mais importante: a busca por uma identidade feminina e as particularidades, uniões e sofrimentos que essa busca traz.

Escrevi sobre Elena em um post anterior, mas não consegui explicar qual foi o ponto vital que foi tocado em mim quando assisti ao filme de Petra Costa. Seguindo minha tosca lista apresentada aqui, a questão mais evidente é a luta de uma família – formada por mãe e irmã de Elena. O pai mal é citado – para compreender o suicídio de uma jovem de 20 anos. Lidar com a culpa por não tê-la ajudado a superar a depressão parece ser algo que mãe e irmã precisam lidar todos os dias.

Mas a grande questão é a elaboração do luto, o que me parece ocorre de duas maneiras no filme. A primeira é através da arte. Afinal, ela faz um filme sobre a irmã, tentado se aproximar dela, conhecê-la e, com isso, talvez não superar de fato a morte de Elena, mas compreender que ela morreu de forma trágica e que isso é algo que jamais vai mudar.

O filme é construído através de uma estética delicada, sutil, extremamente baseada no lirismo das palavras e das imagens. Além disso, retoma uma referência clássica do suicídio na literatura: a personagem Ofélia. Sem lugar no mundo, já que não é amada por Hamlet com quem se casaria e não tem mais a presença do pai, assassinado pelo príncipe que amava, ela enlouquece e se suicida. A cena de sua morte nem aparece na peça (ou nos filmes ou nas adaptações para TV), mas há várias representações de sua morte. (Uma delas é o quadro de John Everett Millais que postei acima). Afinal, o espectador não consegue deixar de imaginar essa morte trágica e dolorosa.

No filme, Petra Costa aparece boiando em um rio, vestida como uma Ofélia do nosso imaginário moderno.  Logo em seguida, aparece a mãe, com a mesma roupa, na mesma situação. Seguem-se diversas outras mulheres vagando em um rio repleto de figuras femininas, vestidas como Ofélia, tristes como ela, mas não submersas. Vivas e unidas, pois a tentativa de superar o luto parece unir essas mulheres – mãe, irmã e todas que se identificam com a história de alguma maneira – de maneira plástica, sensível, lírica.

E feminina.

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