Elena – Um nó na garganta

Por: Wendy Tonhati – blog Olha que dia bonito – 2/8/2013

Um nó na garganta. Essa foi a sensação de assistir Elena. O documentário construído pela diretora e atriz Petra Costa com imagens de arquivo da família, conta a história da irmã de Petra, a atriz Elena Andrade.

“Você é minha memória inconsolável, feita de pedra e de sombra, e é dela que tudo nasce e dança”.

Elena era atriz, assim como Petra, assim como a mãe delas um dia quis ser. Embora Elena seja o título, vi um filme sobre essas três mulheres. As angustias, a solidão delas e de tantas outras pessoas que em algum momento se identificam com algo da história. Petra busca não só para biografar a irmã, mas mostrar o tanto de Elena há nela. Se Petra se vê em Elena, se as pessoas veem Elena em Petra, as duas são vistas na mãe de quem eu tenho a impressão que herdaram tudo.

Elena atuando.

Elena tinha 13 anos quando ganhou uma câmera e uma irmã. Aos olhos de pequena, ela era a musa. Atuava, cantava, dançava e dirigia Petra em filmes caseiros. Elena entrou para uma companhia de teatro. Exigente consigo mesma, por meio dos depoimentos colhidos por Petra, os atores da companhia dizem que Elena ensaiava até a exaustão.

Decidiu ir para Nova Iorque, queria ser atriz de cinema. Voltou ao Brasil, e foi mais uma vez para os Estados Unidos, dessa vez, aos 20 anos, com a mãe e a irmã. Testes, aulas e nenhuma resposta de trabalho. Não podia viver sem a arte que tanto amava. Caiu em depressão.

Petra tinha sete anos quando a irmã morre e 17 quando encontrou o diário de Petra. Se encontrou no que lia. O filme veio dez anos depois. Refez os passos de Elena, telefonou para os conhecidos da irmã. Levou a mãe para o lugar onde moraram quando ela era criança. Em muitas partes, as imagens são filtradas, pouco se vê do rosto de Petra . Já o roteiro, tem falas com vezes de poema.

Do meio para o final, a mãe ganha destaque. É a figura de reflexão, onde Elena deixa de ser um filme sensível e acompanhado de uma trilha sonora escolhida cuidadosamente para entrar em análise.

O suicídio é um tabu. A culpa que sente a família de uma pessoa que decidiu por fim a vida, pode durar muito tempo, pode nunca passar. Cada um tem que buscar o melhor jeito, seja em terapia, falando da própria dor, fazendo um filme ou tudo isso junto.

“Faço 17, 18 anos, sinto que com as horas que passam, vou chegando mais perto de você… Até que no meu aniversário de 21 anos, minha mãe me olha e ame diz: Agora você está mais velha do que Elena. O medo de que eu fosse seguir seus passos começa a desfazer, mas eu continuei achando que você, Elena, estava mim.

Deixei de sentir isso ao começar ter buscar. Renascendo um pouco pra mim, mas pra morrer de novo. E eu com muito mais consciência para sentir a sua morte dessa vez”.

Em uma das cenas, Petra relembra quando foi ao cinema com a irmã assistir A Pequena Sereia. Quando voltaram para casa, Elena leu a história original para a irmã. “Em que ela sofre para se tornar mulher, perde a voz e morre. Como assim ela morre? Me senti enganada”, diz Petra.

É Petra, quantas vezes não nos sentimos? O amadurecimento pode vir acompanhado de sofrimento. Alguns não suportam.

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