“Elena” – O peso da memória familiar posto em xeque

por: Mateus Nagime – site Deli – 20/7/2013

Elena, longa-metragem inédito, de Petra Costa, se tornou um dos maiores sucessos inesperados do ano e grande destaque da safra atual de documentários nacionais. No filme, Petra vai em busca do dia-a-dia que sua irmã mais velha, e grande mentora Elena deixou em Nova Iorque, onde foi tentar a carreira de atriz e tirou sua própria vida em 1990, quando Petra ainda era criança.

O filme inicia bem, com imagens poéticas da diretora andando por Nova Iorque, ouvindo fitas cassetes gravadas pela irmã e sentindo sua presença em cada esquina da megalópole: será que ela passava por essa rua? comeu neste mesmo estabelecimento? já pegou este táxi? se encontrou vinte anos atrás por acaso com este cara que está na minha frente? A presença física, forte e avassaladora da memória e de tentar decifrar o passado. O que importa nem são tanto as imagens, mas é a mistura de passado e presente que parece condenar a existência de Petra. O peso da memória.

E nisso tudo, a pergunta óbvia: por que ela se matou, como a depressão acabou por vencê-la a este ponto? O que Petra, talvez não perceba, é que no fundo, no fundo, é uma questão sem resposta. Não dá para dizer que foi somente pela distância ou pelas rejeições que a aspirante a atriz era obrigada a suportar. Não dá para criar uma mártir da Era Collor em cima de uma tragédia familiar. A homenagem se torna vazia, nula, digna de um filme familiar de má qualidade, do tipo que só faz sentido em cerimônia particular.

A parte biográfica que domina os dois terços finais acaba por prejudicar o filme de tal maneira que quase esquecemos a beleza de seu início, das imagens filmadas (por quem, quando?), das pessoas caminhando no dia-a-dia com anseios e vontades que se confundem aqueles de Elena e aos de Petra. Ao perder esse todo universal e focar no próprio umbigo, uma bela promessa escapa e se esvai.

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