Elena é um exemplo de como a vida ganha novos sentidos nas mãos daqueles que a regem pela arte

image

Thiago Barbosa, do Arrotos Culturais, viu ELENA ano passado, na Mostra Internacional de Cinema de SP, e escreveu, em 22 de outubro de 2012, a seguinte resenha em seu blog:

“Como exprimir a paixão por um familiar através de imagens e arquivos de vida? A pergunta um tanto difícil parece simplificada na obra Elena, da diretora Petra Costa. Obra incomum no cenário atual de documentários nacionais, Elena transita entre o gênero ficcional e documental. Do primeiro carrega a poética que encanta os sentidos nas belas imagens de cobertura e na narração tímida da diretora, estreante em longas-metragens. Do segundo, exprime uma história triste e real, a relação entre Petra e a irmã Elena, marcada por uma tragédia que tem forte influência no destino de uma família.

Desde as primeiras cenas a obra assume uma postura poética/artística com narrações em off, baseadas na percepção que Petra teve de Elena durante a infância, momento no qual as irmãs já nutriam o desejo de ingressar nas artes, enquanto atrizes. Elena é a mais velha e a primeira a vivenciar o desejo pela arte, momento em que decide tentar a sorte nos Estados Unidos. A jovem Petra acompanha a mudança com dificuldades de se adaptar ao novo cenário, mas ainda muito próxima de Elena. Naturalmente a irmã mais velha funciona de espelho e o carinho entre ambas fica evidente nas imagens de arquivo que compõem a obra.

Aliás, é nas imagens de arquivo que reside toda parte documental. Registro vasto, o material serve como primeiro contato com o universo cinematográfico, seja na construção de pequenas narrativas ou em um simples light painting de jovens com uma câmera na mão. Importante ressaltar que ao fundo de tanta poética existe um trauma e é na junção da beleza com a tristeza que o filme se realiza esteticamente. Além das ótimas coberturas e da fotografia bem equalizada, a escolha acertada da trilha sonora, com destaque para uma composição do infalível Gustavo Santaolalla. Nada como uma boa montagem que sabe extrair do espectador a emoção de cada momento.

Como na Mitologia Grega, a presença de Elena é fundamental para a construção de todo o cenário, a grande diferença está no cavalo instalado em Tróia. Nele a comandante Petra Costa, disposta a resgatar a irmã, utiliza do verdadeiro amor para construir uma bela homenagem e dilacerar o espectador que, inevitavelmente, associa toda sensação as próprias experiências de vida. Mais do que um documentário ou um filme, Elena é um exemplo de como a vida ganha novos sentidos nas mãos daqueles que a regem pela arte.”

Índice

(346 artigos)