ELENA é um choro em forma de filme

Por: Diana Queiroz – blog Câmera Lenta – 24/7/2013

Petra Costa Costa se arriscou em um profundo projeto pessoal e, ao mesmo tempo, universal. Elena é um choro em forma de filme, mas também um abraço de consolo.

Apesar de se tratar de um documentário, a diretora buscou fugir dos padrões do gênero. Sem utilizar depoimentos com os personagens em enquadramentos estáticos, falando diretamente para a câmera, a diretora reconta a trajetória da irmã, através de uma narrativa fragmentada, que aos poucos vai tomando forma para desvendar a curta vida de Elena.

Durante o filme vemos diversas imagens registradas em VHS por Elena durante a década de 80, quando fantasiava em ser atriz. Vemos ela pequena, dançando com os modos encantadoramente desajeitados de uma criança e jovem, quando já havia encontrado a graça e a feminilidade de uma dançarina perfeccionista, partindo para Nova York em busca de seu sonho. Mas Elena acaba angustiada por não ver sua carreira caminhando, tornando-se vítima de uma depressão traiçoeira.

Na época, sem idade suficiente para entender o que aconteceu, Petra criou defesas psicológicas, buscando, inclusive, proteger a mãe de qualquer perigo para que ela não morresse também, desenvolvendo uma espécie de transtorno obsessivo compulsivo que envolvia diversos comportamentos supersticiosos, como subir de joelhos as escadas de seu apartamento ou evitar de se olhar no espelho.

O filme não trata só sobre a morte de Elena e por isso se estende por muito mais tempo depois que seu suicídio é narrado. Ele expande-se para uma investigação psicológica sobre os efeitos de sua morte sobre sua irmã e sua mãe. Aliás, não admirar a mãe das duas é praticamente impossível: corajosa ao revisitar seus pesadelos do passado, sempre com seus olhos tristes e personalidade sensível.

A estética do filme é impressionante. Há um apelo extremamente sensorial, que nos comove e atrai. O trabalho de edição é muito cuidadoso, assim como o de edição de som e trilha sonora. A forma de passar toda a carga dramática para o espectador é realizada de maneira ímpar e sutil como carta-documentário, anexada de lembranças reais e imaginárias.

Interessante também é que ao decorrer do filme, ao mostrar-se caminhando pelas ruas da metrópole, em planos com profundidade de campo mínima e permitindo que vejamos apenas suas costas, a diretora converte-se praticamente em sua irmã, reforçando as semelhanças físicas das duas.

Quando vemos Petra e a mãe flutuando na água turva ao lado de tantas outras mulheres que escorrem embaraçadas umas às outras, enxergamos ali várias Elenas, Petras e mães em luto, todas entrelaçadas num bloco único de dor e sonhos, mas também esperanças.

O filme nos deixa com a certeza de que a Elena de Petra foi uma perda irreparável, sua memória inconsolável, uma morte provocada por sentir demais.

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