Elena (2013)

por: Yuri Deliberalli – blog Discurso Cinematográfico – 8/7/2013

Atenção! O texto a seguir contém detalhes da trama.

Se há uma coisa que não se pode acusar este documentário de Petra Costa é de não ter alma, afinal Elena é um dos filmes mais pulsantes que figuraram no cinema brasileiro recente. Marcando a estreia de sua realizadora no ramo cinematográfico, o filme embarca na jornada interior e exterior de Petra em busca de Elena, sua irmã que pôs fim à própria vida em dezembro de 1990.

Nesse sentido, Petra visa reconstruir os passos da irmã como forma de compreensão de sua vida e de sua atitude drástica, ao mesmo tempo em que se vale de uma composição visual profundamente intimista para demarcar essa procura pelo intangível. Sabe-se que Elena era essa adolescente extremamente dedicada à arte, a mais dedicada e perfeccionista membro de uma companhia de teatro mineira. Com sonhos altos de se tornar uma atriz de cinema, ao estilo hollywoodiano, ela embarca para os EUA numa tentativa de construir uma carreira por lá, já que, por aqui, o futuro não é nada promissor (o governo Collor fechou a Embrafilme e liquidou com o cenário cinematográfico nacional no início da década de 90). Mas as adversidade no estrangeiros são grandes e a falta de oportunidades é uma presença incômoda no âmago de Elena, iniciando seu caminho até a destruição.

Observa-se que não se trata de um objeto de fácil propagação, este filmado por Petra, e as dificuldades podem ser percebidas ao longo da projeção. É difícil para um filme desta natureza ultrapassar a carga extremamente pessoal da história e passá-la ao seu espectador de forma que ele compartilhe dos dramas vivenciados por sua realizadora. Inteligentemente, Petra faz uso de um campo imagético pouco comum no gênero documental, procurando distanciar seu filme do registro mais tradicional. Para tanto, ela deixa a excessividade de depoimentos de lado para concentrar-se numa construção visual que remete aos fluxos de memória da própria diretora, numa tentativa de inserir o público em sua luta contra a fragilidade da lembrança.

Assim, vemos imagens distorcidas, meio apagadas, de forte cunho sensorial, como se fossem reproduções da memória que tem da irmã. Ao mesmo tempo, somam-se pertinentes imagens de arquivo, especialmente os inúmeros vídeos gravados por ela como início de expressão da sua arte.

Simultaneamente a essa complexidade visual, Petra narra seu filme por meio de frases essencialmente poéticas que, conquanto tragam certa romantização para o registro, se tornam também o calcanhar de Aquiles do filme. A razão é simples: depois de um certo tempo de projeção, todo aquele tom poético acaba soando mais como filosofia capenga do que como aura romantizada, o que não só relativiza a força da imagem, como também dá certo tom pretensioso e idealizador ao filme.

Ainda assim, Elena não desestabiliza por completo e até consegue manter o encantamento de ser, no fim, uma obra de puro amor. De um amor que, mesmo depois de tanto tempo, ainda respira com força suficiente para ser pulsante e encorajador, a ponto de ser exposto com tamanha sensibilidade.

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