Hoje eu vi um filme que não consegui terminar de ver. Por que é tão belo, e tão real e tão duro e tão intenso e tão bem editado e pensado e emocionado e emocionante, que sufoca.

por: Maíra Lemos Cadaxa – 28/5/2013

Hoje eu vi um filme que não consegui terminar de ver. Por que é tão belo, e tão real e tão duro e tão intenso e tão bem editado e pensado e emocionado e emocionante, que sufoca.

Hoje vi um daqueles filmes que sufoca.

E sufoca tao bem e tão forte que você pode sentir as mãos no seu pescoço te prendendo lentamente, te engasgando lentamente.

E a falta de ar é tanta que se torna nausea. E a náusea embrulha seu estomago e te angustia.

E a angústia é a martelada final da sentença de sua morte de espirito.

Hoje vi um daqueles filmes que não retrata a morte como algo doce. E não trata o suicídio como algo simples. Por que nunca é simples.

E as palavras usadas são cheias de dor. E ao mesmo tempo cheias de verdade. E verbaliza a depressão como quem conta uma história fácil, sem te dar nenhum aviso. E te angustia novmente pelos seus proprios medos e seus próprios pensamentos, aqueles que você escreve, bem como Elena escreveu, os mesmos que você nunca fala sobre, assim como Elena nunca falou.

E a carta com as palavras finais de Elena numa última intenção de despedida tornou as mãos invisíveis na garganta me sufocando se tornarem mãos no meu coração,  me despedaçando e depois capturarem meu estomago, me embrulhando, me apertando. E a depressão, a minha, não da Elena, riu na minha cara me lembrando de como eu já me senti. Em como outros e próximos já se sentiram, e que hoje já não sentem mais. Mais nada.

E a lembrança dura das memórias também quebra e desconstrói.

No caso da Elena, as cenas do começo do filme mostram tudo que aquela menina foi, tudo que ela representou. E tudo que ela não será.

Como se numa piada o filme nos apresenta filmes e videos de Elena. Doce Elena, dancante Elena. Que como num suspiro viveu e sorriu e dormiu abraçadinhas com a irmã e lhe presenteou aos sete anos com uma concha que respirava o mar nos ouvidos de Petra.

E como num suspiro viajou e esperou e almejou com toda a sua alma até que sua alma se tornou vazia.

E no meio da fotografia brilhante do filme, no meio da trilha sonora espetacular e dos versos delicados de ‘Dedicated to the one I love’ o filme vai revelando Elena, intensa Elena, que como num suspiro foi tomada nos braços pela escuridão da depressão e não viu mais sentido na vida.

E que como num suspiro se matou.

E eu como num suspiro percebi então que o filme é um documentário. E a Petra e a Elena existem. Existiram? Assim como outras milhares de Petras e Elenas existem por aí. À procura do que deu errado, à procura de uma escapatória da vida.

E na cena após o suicídio, na cena onde somente e tão somente palavras tomam conta da tela, que dizem que a morte é o alívio para uma vida que não tem sentido, eu me retiro do cinema e entre soluços e respiração ofegante eu vou pro banheiro. E no cubículo branco eu finalmente me liberto das palavras de Elena, do olhar da mãe das duas e enfim a voz de Petra não são é mais ouvida.  E eu suspiro em paz.

E mando as mãos que me acorrentam e me sufocam e me apertam o estomago para longe.

Hoje eu vi um filme melancólico.

E assim como a melancolia, encantador e belo em seu todo. Mas também devastador e emprisonador. E que deve ser tomado e visto com cuidado para que não se torne grande demais na pequenice do sentido da vida que é tão grande e bela.

Hoje eu vi um filme que não consegui terminar de ver.

E talvez de outra vez eu termine. Uma segunda chance, talvez em alguns anos.

E eu indicaria para que outros vissem, com o devido cuidado de sairem da sala de cinema caso se sufoquem assim como eu.

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