A delicadeza violenta do feminino

por: Thais Torres – Subvertidas – 12/6/2013

Começo o post com duas recomendações: visitem a exposição Elles: mulheres artistas na coleção do Centro Pompidou que está no Centro Cultural Banco do Brasil (de 24/05 a 16/07 no Rio de Janeiro. Depois, em São Paulo) e assistam ao filme Elena que está nos cinemas (inclusive nos de Campinas, o que é uma raridade).

Em comum entre a exposição é o filme há o fato de serem ótimas e criativas produções culturais. Não ignoro que cada uma está inserida em sua esfera e dimensão próprias, evidentemente. Há inúmeras diferenças entre as obras expostas no Centro Cultural Banco do Brasil e o filme de uma cineastra jovem como a Petra Costa. De toda forma, não são os pontos divergentes mais óbvios que me interessam, mesmo porque é extremamente complicada essa coisa de atribuir valores e comparar obras de arte de campos tão diferentes.
Algo muito diferente ocorre com o filme da jovem Petra Costa. Não que o tema não seja angustiante ou violento. Ao contrário, o filme é um documentário que mistura vídeos caseiros, textos pessoais e interpretações líricas que tentam contar e reinterpretar o suicído da irmã da cineasta. Uma experência bem forte (e pouquíssimo recomendada para um cineminha tradicional no dia dos namorados), triste, dolorosa.
Chama atenção, no entando, o modo como a história é contada. Segundo a roteirista, atriz e diretora do filme,
Ganhei uma irmã que eu nunca tinha conhecido com tamanha profundidade. Mas logo percebi que não era real, que ela nunca mais iria voltar. Foi um processo de ganhá-la e perdê-la repetidamente, inúmeras vezes. Algo ao mesmo tempo prazeroso e devastador. É como ver a pessoa, querer tocá-la, para no instante seguinte perceber que ela é um fantasma.
A irmã e a mãe de Elena são sobreviventes de um evento trágico e tentam aqui compreender o que aconteceu. E essa compreensão é feita através da arte. O curioso é que quase não há homens no filme, mas isso não é uma espécie de feminismo xiita, mas algo natural, como se não existissem outras pessoas capazes de superar essa morte senão a mãe e a irmã daquela que se foi. Por um acaso essas sobreviventes são mulheres. E acredito que isso torna – talvez inconscientemente, talvez não – essa busca pela superação do luto, uma busca pela representação do feminino e das mulheres que protagonizam a história.
Talvez eu esteja errada nesta interpretação. Mas o que importa é que se trata de um bom filme e que, ao falar de si mesma com sinceridade e profundidade, Petra Costa fala da morte, da culpa e da saudade de maneira universal, atingindo a todos.
(Elena e sua irmã Petra Costa, ainda recém-nascida)

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