CONDIÇÃO JUVENIL
2 de agosto de 2013

Elena é o espelho no qual se reflete a turbulência presente no coração de todos os jovens

Em debate no Centro Cultural da Juventude, em São Paulo, Petra Costa conta o momento em que pensa pela primeira vez na realização do filme ELENA: “Tinha 17 anos e tive que fazer uma cena inspirada em um livro da vida e encontrei um diário da Elena quando ela tinha essa mesma idade”.

Ao encontrar o diário da irmã, Petra Costa reconhece as suas próprias questões, angustias e incertezas. Percebe que vivem o mesmo momento de urgências. Pouco depois Petra Costa percebe nas Ofélias, de Shakespeare, o arquétipo que une várias jovens mulheres e conta que se sentiu no dever de fazer um filme sobre esse sofrimento silencioso. Segundo ela, ELENA foi produzido para o jovem, para quando tudo parece ser uma questão de vida ou morte.

A juventude pode ser observada a partir de diversos prismas: uma faixa etária, um período da vida, um contingente populacional, uma categoria social ou uma geração. Todos eles se vinculam à dimensão da fase do ciclo vital entre a infância e a maturidade que é marcada pela superação da condição anterior de dependência e proteção exigida pela infância e adolescência.

Na juventude, o indivíduo processa de maneira mais intensa a construção de sua trajetória, a definição de valores valores, e a busca de sua entrada na vida social. É nesse processo que o jovem constrói sua identidade e define projetos de vida. Por isto, é a fase da vida mais marcada por ambivalências: de um lado a família e a sociedade e do outro a expectativas de emancipação.

Na sociedade moderna, esse período se alonga e pode ter durações e ritmos diferentes, que variam de acordo com os contextos sociais e com as trajetórias de cada um. A perda de linearidade deste processo é o que caracteriza a condição juvenil hoje.

É importante lembrar que há desigualdades sociais e diferenças culturais entre os jovens. Hoje fala-se em “juventudes”, no plural. Essa condição juvenil que abordamos é vivida de forma desigual e diversa. Porém, os jovens de épocas diversas compartilham da dimensão biológica (os hormônios, a adrenalina, o corpo jovem) e uma experiência geracional comum.

A manifetação da tensão local-global é marcante no mundo de hoje: a integração globalizada convive com processos de exclusão e profundos sentimentos de desconexão. As conseqüências desses aspectos se ampliam entre os jovens pois as profundas mudanças no mercado de trabalho os atingem de maneira particular. É nesta fase da vida que se busca condições para a emancipação. Segundo Regina Noaves, em Juventude e sociedade: jogos de espelhos, “as relações entre juventude e sociedade se fazem como em uma espécie de jogo de espelhos: ora apenas retrovisor, ora retrovisor e agigantador. Neste peculiar jogo dialético se produzem marcas geracionais, sensibilidades e disposições simbólicas comuns aos jovens que vivem em um mesmo tempo social.”

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