MEDOS DE SOBRAR, DE MORRER E DE SE DESCONECTAR
2 de agosto de 2013

Já no primeiro trecho do vídeo acima percebemos a fase da vida de Elena que o filme nos conta: o momento em que ela deixa de brincar com a irmã e vai para Nova Iorque, ser atriz de verdade. Alex Piero, em debate no Centro Cultural da Juventude, inicia a sua fala destacando as dificuldades de compreender o momento de transição entre a brincadeira da infância e tornar-se adulto de verdade.

Para compreender esse momento, Alex Piero faz uma análise comparativa de ELENA com o texto Juventude e sociedade: jogos de espelhos em que Regina Novaes apresenta três grandes marcas de como a juventude contemporânea vivencia a sua experiência na sociedade: medo de sobrar, medo de morrer e o medo de desconectar-se.

Medo de sobrar

Existe hoje por parte de jovens de todas as classes e situações sociais certa insegurança em relação ao trabalho que está relacionada ao fato de saber que sua geração está submetida às rápidas transformações no mundo do trabalho: os jovens sabem que os diplomas escolares são necessários, mas que não garantem a inserção produtiva e que não necessariamente o nível de escolaridade está relacionado a posição no trabalho. Rápidas transformações econômicas e tecnológicas se refletem no mercado de trabalho provocando mudanças, alterando especializações e encerrando algumas profissões. Segundo Regina Novaes, o medo de sobrar decorrer dessa condição.

Em ELENA, podemos acompanhar a angustia da busca pela realização profissional. Elena, que havia logrado entrar no conhecido grupo de teatro Boi Voador e tido sucesso, agora pretendia ser atriz de cinema em Nova Iorque. A frustração de não conseguir trabalho, e as diversas negativas que recebe, a levam a uma depressão e tristeza profunda. Da mesma forma, acompanhamos a angustia de Petra Costa, durante o processo de decisão sobre qual carreira seguir e qual curso prestar no vestibular.

Esse contexto do mundo do trabalho deve pautar políticas públicas que considerem suas especificidades. Gabriel Medina, Coordenador de Juventude da Secretaria Municipal de São Paulo, nos lembra durante o debate que existe uma distância entre os empregos que são oferecidos aos jovens e aqueles que são de interesse do jovem. O trabalho é espaço de realização humana e condição para a emancipação do jovem. Segundo Medina, da mesma forma a escola não é a que juventude quer e precisa, havendo um abismo de políticas públicas no sistema educacional após o Ensino Médio. Sendo assim, no sistema educacional está posto o desafio de oferecer respostas diferenciadas que permitam modos diversos de acesso e continuidade na formação escolar.

Medo de morrer

Segundo Regina Novaes, “em outras gerações o gosto pela aventura e a vontade de correr risco estavam respaldados por uma expectativa: “ser jovem” é estar longe da morte.” No entanto, a juventude cada vez mais convive com a morte diariamente.

Segundo o Mapa da Violência de 2011, o avanço da violência no Brasil nas últimas décadas teve como motor exclusivo a morte de jovens: enquanto a taxa global de mortalidade da população brasileira caiu de 633 em 100 mil habitantes, em 1980, para 568, em 2004, a taxa de mortalidade juvenil teve leve aumento, passando de 128, em 1980, para 133 a cada 100 mil jovens (15 a 24 anos), em 2008.

A violência que existe hoje é um fenômeno de natureza social, que resulta processos gerados na convivência dos grupos e nas estruturas da sociedade. As diversas formas de violência configuram “tendências” que encontram sua explicação nas situações sociais, políticas e econômicas que o país atravessa.

Esse contexto forma o segundo aspecto que abordamos aqui, o medo de morrer. Nesse sentido, as políticas públicas devem se desenvolver com o objetivo de assegurar aos jovens o direito à vida segura.

Medo de desconectar-se

No Debate Folha, Rosely Sayão ressalta que o jovem do mundo atual está permanentemente conectado com o mundo público, ele já nasceu no mundo que confunde vida pública e privada. É muito comum ver postagens sobre a crise adolescente, por exemplo. Mas nem sempre a comunicação significa troca.

Da mesma forma, Regina Noaves, aponta que “nunca houve tanta integração globalizada e ao mesmo tempo, nunca foram tão agudos os processos de exclusão e profundos os sentimentos de desconexão”.

Em ELENA, podemos lembrar do momento em que Petra recebe uma concha de sua irmã, para quando der saudades. Medos e sentimentos de insegurança e desconexão desfavorecem a comunicação e a sociabilidade, mas também são ativadores de resistências e invenções sociais. O medo de se desconectar está relacionado ao medo de não se achar e não se reconhecer, por isso, para entender o pertencimento é preciso perceber as virtualidades.

Garantir o direito à experimentação e fazer direitoSegundo Regina, para esta geração juvenil são maiores as possibilidades de engajamento social a partir de sentimentos gerados na esfera da vida privada (medo de sobrar, medo de morrer, insegurança, desconexão, indignação).

Alex Piero, no debate no Centro Cultural da Juventude, nos lembra que a PEC da juventude foi aprovada no Congresso em 2010. Ao incorporar o jovem na constituição, reconhecê-lo como “sujeitos de direito”, universais e específicos, a juventude estará desafiada a reinventar a sociedade e compreender as especificidades da condição juvenil atual é essencial para o desenvolvimento de políticas públicas.

Nesse sentido, Alex Piero nos lembra no debate que os direitos da juventude são os direitos de experimentação. É preciso diminuir as chances do jovem não se reconhecer, ou seja, permiteir que o jovem a partir de suas experiências defina o que quer viver.

Por fim, podemos lembrar aqui do trecho do filme em que Elena fala de sua semente. De certa forma, a semente de todos os jovens precisa de algumas condições para crescer e se desenvolver. As políticas públicas para juventude devem criar ambiente para esse desenvolvimento para ter possibilidades de germinar.

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Elena é o espelho no qual se reflete a turbulência presente no coração de todos os jovens



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